A Força Aérea acabaria com as suspeitas sobre a origem do fogo’

Para António Mota, não faz sentido que o combate aos incêndios seja um serviço entregue a privados, quando a Força Aérea tem capacidade para voltar ao ativo. Para que isso aconteça, reclama 65 milhões de euros para investir na aquisição de meios de combate ao fogo.

A Força Aérea acabaria com as suspeitas sobre a origem do fogo’

Há condições para a Força Aérea voltar ao ativo no combate aos incêndios?

Recorde-se que, nos anos 80 e 90, a Força Aérea fazia combate direto aos incêndios. Esse trabalho não é mais do que passar com aviões e helicópteros por cima do incêndio e lançar água ou calda retardante sobre o fogo.

Mas deixou de ter essa função.

É verdade. Mas continua a ter inúmeras missões de apoio ao combate aos incêndios, tanto na fase de prevenção como no rescaldo. Pouca gente se apercebe desse trabalho, até porque a Força Aérea o faz e não para se mostrar.

Mas para o combate em si, tem condições para voltar a atuar?

Hoje não tem meios com capacidade para o combate aos incêndios e, como não tem essa missão atribuída há muitos anos, não tem pessoal com preparação adequada.

Este foi um trabalho atribuído a privados.

Atenção: eu não digo que os privados combatem os incêndios melhor ou pior do que a Forças Armadas. Mas não parece lógico que, tendo Portugal uma força que pode fazer esse trabalho, esteja a pagar um extra por esse serviço. Fala-se agora na aquisição de novos meios aéreos: faz todo o sentido que sejam entregues à Força Aérea, até porque esta não tem o lucro como objetivo.

E há quem tenha?

Para ser preciso apagar incêndios, é preciso haver incêndios. E acontecem incêndios inexplicáveis, que aparecem durante a noite, em zonas com difícil acesso para os bombeiros, focos estrategicamente estudados. Tudo isto leva a suspeitas de que haja fogos provocados por privados para justificarem os contratos. Sendo a Força Aérea a fazer o combate, essa suspeição desaparece.

Seria, então, uma função exclusiva da Força Aérea?

Não, não pedimos a exclusividade, até porque nem sempre seríamos suficientes em casos de grande dimensão como o da Madeira. Mas temos condições para sermos a primeira escolha.

Qual seria o financiamento necessário para que a Força Aérea voltasse a trabalhar no combate aos incêndios?

Seriam necessários 65 milhões de euros, aplicados em dois anos na aquisição de meios (47 milhões no primeiro ano e 18 no segundo). Parece um valor muito elevado, mas se tivermos em conta que Portugal gasta por ano uma média de mil milhões de euros com os incêndios, começa a relativizar-se.