Os noivos no fogo do Zmar: ‘Pessoal temos de sair,está tudo a arder’

PJ está investigar causas do incêndio. Resort inaugurado em 2009 não tem data para reabrir. Sofia e Hugo tinham acabado de dar o nó quando tiveram de fugir com quase cem convidados

O pedido de casamento foi em Odemira. Um ano depois, lá estavam eles: a cerimónia civil já tinha acabado e preparavam-se para entrar para o copo de água na sala do resort mais conhecido do concelho e batizada com o nome da vila. Tudo corria conforme planeado até o noivo aparecer na receção com cara de caso. “Pessoal temos de sair, está tudo a arder”, disse. Com fama de brincalhão, Hugo teve de insistir que era a sério para convencer os quase cem convidados a abandonar a festa, contou ao i Sofia Ferreira, a jovem casada de fresco apanhada no meio do incêndio que no sábado destruiu parte do empreendimento turístico Zmar. “Acharam que fazia parte do número”, conta a designer, de 28 anos, que não esquece o momento em que virou a esquina do edifício e viu o fogo a escassos metros na linha da piscina. “É uma sensação indescritível. Se resumisse a uma palavra seria surreal.”

O casal não ganhou para o susto, mas acabou por não passar disso mesmo, uma vez que nunca correram perigo. Amantes da natureza, ele de Lagos e ela de Lisboa, viram no complexo inaugurado em 2009 e dedicado ao turismo de natureza o local ideal, também por ser a meio caminho e ter alojamento. A festa acabou quando ia começar a sério, diz Sofia, mas do resort já tiveram a garantia de que serão reembolsados. Depois da saída precipitada, levaram os convidados para a Zambujeira do Mar para atirar o bouquet e ainda não decidiram se o convívio será para repetir naquele ou noutro sítio.

Forte impacto no concelho A Polícia Judiciária está a investigar as causas do incêndio que para para já encerrou temporariamente o espaço. Segundo fonte da PJ, trata-se de um procedimento habitual. O presidente da Câmara Municipal de Odemira lamentou ontem o sucedido, alertando para o elevado impacto social do empreendimento no concelho, uma vez que emprega cerca de cem pessoas. Do lado dos responsáveis do Zmar, a garantia é que o resort irá reabrir renovado. Quando e o que acontecerá entretanto aos funcionários são perguntas para as quais não adiantam respostas, estando a aguardar a intervenção das seguradoras.

Francesca Mello Breyner, da comunicação do Zmar, disse ao i terem “90% de certeza” de que o incêndio começou numa camarata habitualmente utilizada por funcionários e grupos de escolas, não adiantando qual terá sido a ignição. Se algumas pessoas no local indicaram que havia extintores inoperacionais e não haveria um plano de evacuação, a porta-voz garante que todos os procedimentos foram cumpridos e os bombeiros usaram as bocas de água disponíveis no recinto. Já as 500 pessoas que se encontravam no espaço foram retiradas sem incidentes. “Umas decidiram ir embora e outras foram realojadas”, adiantou a porta-voz. Além dos edifícios principais do resort, entre os quais a cozinha, balneários e spa, o fogo destruiu três viaturas de funcionários. A zona de bungalows não foi afetada.

Sofia relata que a saída dos convidados decorreu com calma: pegaram nos carros e seguiram as indicações do staff, até por não quererem atrapalhar a intervenção dos bombeiros, diz. “A estrada de acesso é só uma, mas é larga o suficiente. Fomos todos encostando os carros à berma à medida que passavam os carros da GNR e dos bombeiros, sem grande dificuldade”. Apesar do misto de sentimentos, as fotografias que retratam o momento da fuga, captadas pela fotógrafa de serviço Filipa Oliveira, têm ainda assim qualquer coisa de especial, admite. “Como todos os convidados me disseram, é sem dúvida um casamento inesquecível. Tenho a ideia que será um casamento difícil de igualar”, sorri Sofia, que no meio da confusão manteve a calma e o vestido. E ainda conseguiu ir ao bungalow buscar as suas coisas e trocar os saltos por chinelos.