BCP: Banco funde ações e abre a porta aos chineses da Fosun

Reagrupamento das ações era uma das condições impostas pelo grupo chinês para entrar no capital do BCP. Banco liderado por Nuno Amado já mandatou comissão executiva para finalizar as negociações 

O BCP vai avançar com o reagrupamento de ações e a operação vai ter efeitos a partir do dia 24 de outubro. A ideia é juntar 75 títulos num só. Os acionistas têm até ao dia 21 para reorganizarem as suas carteiras de forma a terem um número total de ações “que seja múltiplo de 75”. 

No entanto, o reagrupamento bolsista vai também incluir uma contrapartida de 2,57 cêntimos por título, “a receber pelos acionistas pelas ações que não permitam a atribuição de um número inteiro de ação, valor este correspondente ao preço médio ponderado das ações representativas do capital social do Banco no mercado regulamentado Euronext Lisbon nos seis meses imediatamente anteriores à data da presente deliberação”. revela o banco. 

Isto significa que o banco liderado por Nuno Amado vai pagar 0,0257 euros por ação que fique fora do agrupamento de ações (reverse stock split). Isto é, cada 75 ações valem uma nova e as que sobrarem têm esta contrapartida, pois o banco compra ou promove a venda.

Avançar com operação Este passo é determinante para o futuro do banco, já que encerra mais uma das exigências apresentadas pela Fosun para entrar no capital do BCP. Aliás, o banco fez já um comunicado esta quarta-feira onde afirma que “decidiu mandatar a comissão executiva para prosseguir e finalizar com exclusividade as negociações com a Fosun”. 

O certo é que são várias as condições para que esta seguradora chinesa se torne acionista. Uma delas é também o aumento do limite do uso de direitos de voto dos atuais 20% para 30%, a não contribuição para o Fundo de Resolução além da já prevista e a presença de dois administradores no board, sendo também incluídos na comissão executiva. A proposta da Fosun prevê ainda “a possibilidade de o conselho de administração do BCP cooptar até um total de pelo menos cinco novos membros”.

A fusão das ações do BCP tornou-se possível depois de ter entrado em vigor a alteração do Código do Mercado de Valores Mobiliários aprovada pelo governo no Conselho de Ministros de 22 de setembro. Trata-se de um diploma que permite reagrupar ações, o chamado reverse stock split, fora das operações de redução de capital.

De acordo com os analistas, o reagrupamento das ações do banco aumenta a reputação e melhora a perceção dos investidores em relação ao valor do banco, uma vez que o facto de as ações valerem um cêntimo penaliza o título. Há fundos que não investem em ações com uma cotação tão baixa. Além disso, a variação é também mais profunda quando estamos perante cotações de um a dois cêntimos, como é o caso da instituição financeira.

A verdade é que a emissão de novas ações vai implicar a diluição da participação dos atuais acionistas e a Fosun ficaria como maior acionista. Atualmente, o capital do BCP conta com a angolana Sonangol como a maior acionista, com 17,84% do capital, seguida do Sabadell (5,07%), EDP (2,71%), BlackRock (2,22%) e InterOceânico (2,05%).

Reforço de posição à vista A Fosun – que já detém em Portugal a Luz Saúde a seguradora Fidelidade – oferece até 236 milhões de euros para ficar com 16,7% do capital do banco através de um aumento de capital reservado.

Os investidores chineses anunciaram também, em julho passado, que poderão posteriormente aumentar a participação para um intervalo situado entre 20% e 30% das ações do banco, através da compra de títulos no mercado secundário ou, também, de futuras operações de aumento de capital.

Em 2015, a dívida da Fosun Internacional totalizava os 15 mil milhões de euros, ou seja, um valor superior em 20 vezes o seu lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização (EBITDA).

A empresa anunciou que quer expandir a sua atividade noutros mercados e entrar em países como a Polónia,

Moçambique, Angola e Suíça. E é aí que entra o interesse no BCP, já que a instituição financeira liderada por Nuno Amado pode vir a ajudar a que essa experiência se concretize mais rapidamente. 

Para a Fosun, o banco de Nuno Amado será “uma importante plataforma de serviços financeiros para ajudar o grupo a alargar os seus negócios para a Europa e África”, revela. O grupo acredita ainda “que a vertente internacional do BCP pode combinar o crescimento da China com recursos globais”.

O certo é que a Fosun tem sido um dos grupos financeiros chineses mais ativos em compras no mercado internacional e essas aquisições têm sido sustentadas com recurso a endividamento. 

Exemplo disso é a aquisição recente do clube da segunda divisão do futebol inglês Wolverhampton Wanderers e do grupo farmacêutico indiano Gland Pharma – uma operação que representa a maior compra de uma empresa chinesa em terrenos indianos. 

Mas os negócios não ficam por aqui. O grupo conta ainda com participações em vários projetos, como o Club Med, Cirque du Soleil e Studio 8.