António Mexia. “Este é um museu da nova geração”

O CEO da EDP fala do novo MAAT, mas também da relação da empresa com os portugueses.

O resultado corresponde ao que tinha imaginado quando, em 2010, entrou no ateliê da arquiteta Amanda Levete?

Completamente. E acredito que será um hot spot de Lisboa. Os museus hoje são espaços mais ativos, em que as pessoas têm outro ritmo de observação das coisas, e onde a relação com o exterior é fundamental. É esta a evolução dos museus e este espaço respeita isto: vamos ter 38 mil m2 dos quais só 4 mil são de exposição, o resto é jardim e telhados. Tudo isto tem a ver com a ideia de que as pessoas devem ter experiências diversificadas, mas sempre em diálogo entre arquitetura, arte e tecnologia. Os museus são muitas vezes monótonos, este é um museu da nova geração, antirrotina.

Essa preocupação em fazer um museu que fosse particularmente aberto à cidade tem também a ver com um desejo de reconciliar a EDP com os portugueses?

Não. Somos há muitos, muitos anos uma marca de confiança. Somos uma das marcas preferidas dos portugueses. Quando as pessoas saem do mercado regulado para o liberalizado, 85% das pessoas escolhem a EDP. As pessoas têm uma boa relação connosco, isso é indiscutível. Muitas vezes isso é misturado com o debate à volta do preço da energia, mas o preço da energia em Portugal não depende da EDP. A energia em Portugal é um mercado aberto, onde há concorrência na geração e na comercialização. E Portugal é um mercado aberto a Espanha. As pessoas já começaram a perceber as diferenças, já não se confunde eletricidade com EDP. Há muitos outros operadores, é um mercado muito competitivo. Por isso não reconheço qualquer necessidade de apaziguar relações. Sentimos é a obrigação e o prazer de devolver à cidade e às comunidades onde operamos – sendo Lisboa a nossa sede, mas também o fazemos em Bilbau, Oviedo, São Paulo, EUA. Mas Lisboa é a nossa base, a EDP é uma empresa portuguesa, a maior empresa portuguesa, o maior investidor em Portugal, o maior programa de ação social em Portugal, um dos principais mecenas culturais. Isto tem a ver com o que consideramos a nossa posição de liderança a nível mundial no conceito de sustentabilidade e competitividade de uma empresa num mundo aberto e transparente. E sempre que se discute energia com transparência as estatísticas são a favor da EDP.

Disse que a EDP era uma empresa nacional, mas a ideia dos portugueses é que cada vez a EDP é ‘mais estrangeira’. O que é que estas mudanças mudaram no funcionamento da Fundação?

Absolutamente nada e a prova está aqui, no MAAT. Estamos aqui com uma empresa já totalmente privada, com novos acionistas por detrás deste projeto, mas que sempre nos apoiaram.

O orçamento que a Fundação EDP receberá em 2017 será o mesmo que recebeu este ano, sendo que a partir de agora existe também o MAAT. Até que ponto é que isto influencia o programa de mecenato?

Já definimos as instituições que apoiamos e não há uma alteração significativa. Neste momento o programa que está previsto – seja com Serralves, com a Casa da Música, com a Arpad Szenes – está definido. Esta questão resulta essencialmente de criarmos condições para haver uma redução de custos significativa com o investimento na modernização do interior da Central [antigo edifício do Museu da Eletricidade] e portanto temos muito menos custos de montagem e desmontagem porque passámos a ter uma estrutura permanente. Além disto, vamos ter uma política de receitas diferente da que existia até agora, que será muito competitiva. E vamos ter um conjunto de parcerias com outras instituições e marcas, seja na área das comunicações, da mobilidade… e esperam-se receitas daí. Mas sim, houve uma redução das instituições que recebem o apoio da EDP porque é importante que… Nós temos noção do que depende de nós e que o nosso apoio é essencial. Agora, as instituições têm de saber, elas próprias, criar sustentabilidade. Ajudamo-las a criar esse contexto de sustentabilidade, e depois temos uma intervenção direta através do MAAT e da Central Tejo, e a indireta continuará a existir, mas toda a gente tem de perceber que estamos num mundo em que as instituições têm de ser sustentáveis e criar as suas receitas.

Mas as instituições que, no próximo ano, verão o apoio que recebem da EDP reduzido já estão avisadas?

Sim, já. Esta decisão não é de hoje.