Haiti. Depois do furacão, a cólera e a fome

Os mantimentos não chegam a todo o lado e há quem morra de inanição. O surto de cólera pode arrastar-se por vários meses. 

Morreram pelo menos 13 pessoas de cólera no Haiti desde que o furacão Matthew devastou grandes partes do sudoeste do país, matando quase 900 pessoas – um número surpreendentemente elevado -, causando dezenas de milhares de deslocados e destruindo centenas de habitações de madeira e zinco. 

A chegada de um novo surto de cólera às regiões mais afetadas pelo furacão pode revelar- -se mais fatal ainda que a tempestade: nos últimos seis anos, por responsabilidade de trabalhadores das Nações Unidas que transportaram a doença para o país depois do terramoto, morreram mais de dez mil pessoas e centenas de milhares foram hospitalizadas. 

As bactérias que causam cólera multiplicam-se em águas sujas, que agora dominam a paisagem de parte do país. Muitas ruas estão ainda parcial ou completamente inundadas, as cheias misturaram-se com a água de esgotos e várias reservas de água pública ficaram infetadas. A situação pode piorar com os próximos meses de chuvas e é possível que o surto alastre para além do final do ano. 

“As pessoas começaram a morrer”, contou à Al-Jazira um responsável do Ministério da Saúde do Haiti, Eli Pierre Celestin, revelando que existe escassez de funcionários médicos nas regiões mais afetadas, hoje recheadas de destroços e com poucos alojamentos. “Existem enfermeiras, mas médicos não.”

A assistência alimentar enviada pelas Nações Unidas também não parece estar a chegar a algumas regiões. Em Jeremie, por exemplo, a inanição ameaça chegar a um ponto de morte, segundo revelou à Al-Jazira um padre da localidade. “Pensámos que o mundo chegasse mais cedo”, revelou Donny St. Germain. “O governo não nos dá nada. A comunidade internacional faz inspeções enquanto pessoas morrem de fome. Precisamos de mantimentos.”