Dissidência liberal do MPT leva partido a escrever carta a Bruxelas

Inácio Faria, presidente do MPT, pediu ao presidente da família liberal europeia para não ir ao evento da Iniciativa Liberal. Van Baalen ignorou

Tornou-se uma sina do Movimento Partido da Terra. Com mais de duas décadas de existência, o MPT nasceu de uma dissidência do Partido Popular Monárquico e começa a ganhar histórico de saídas barulhentas.

Primeiro Marinho Pinto, que saiu para fundar o seu partido, mas permaneceu como eurodeputado independente. Agora, de uma só leva, três homens próximos dos ecologistas decidiram sair e também constituir a sua própria via.

Não é um partido, aponta um dos coordenadores, é uma “startup política”. A Iniciativa Liberal ambiciona desmistificar o preconceito português sobre o liberalismo e promover os valores da ideologia dentro do país.

Para isso organizaram na última sexta-feira um debate em que convidaram Hans van Baalen, presidente da Aliança de Liberais e Democratas para a Europa (ALDE). O convite suscitou forte desconforto na liderança do MPT e o presidente, Inácio Faria, escreveu uma carta a Van Baalen.

O i teve acesso ao documento, que afirma que a Iniciativa Liberal é “liderada por Alexandre Krauss, ex-secretário-geral do Partido da Terra e assessor do ALDE devido a proposta pessoal” de Inácio Faria, por “Rodrigo Saraiva, ex-assessor de imprensa” de Inácio Faria e candidato não eleito do partido pelo círculo de Lisboa nas legislativas de 2015, e por Carmona Rodrigues, mandatário do partido nessas eleições.

De acordo com a carta, “o objetivo da Iniciativa é claramente facilitar a criação de um novo partido liberal em Portugal”. Inácia Faria escreveu também que “apoiar iniciativas destas só contribuirá para a fragmentação do eleitorado” do MPT.

Faria reitera que não pode aceitar que Van Baalen, como presidente do ALDE, apoie ou interfira na criação de um partido político ou em qualquer iniciativa que leve à criação de uma força política em Portugal. O MPT pedia assim, por via formal, a não comparência de Van Baalen no evento – algo que não foi correspondido pela liderança liberal europeia.

Fonte do MPT garante ao i que não há espaço para uma força apenas liberal, daí a via humanista e ecologista do partido, e que o endorsement do ALDE a esta iniciativa não tem sentido.

Fonte da iniciativa responde que há vários países europeus com mais de dois partidos liberais e com militância europeia no ALDE.

O i falou com Hans van Baalen, inquirindo sobre a posição ortodoxa que vem assumindo acerca das sanções a Portugal por suspensão de fundos comunitários. Van Baalen – ou só Hans, como prefere ser chamado – defende que “a moeda única tem de ter regras ou morre”.

Segundo o liberal holandês, “também não tem qualquer sentido não se sancionar a França, e o ALDE defende isso”. “Tem de haver igualdade na disciplina europeia. Há uns anos queriam multar o meu país sem multar a Alemanha e claro que fomos contra isso”, lembra.

Van Baalen declarou-se esperançado em que, nas próximas eleições, os portugueses “escolham um governo reformista que trouxesse mais competitividade”. “Gosto de vir a este país. O tempo, o vinho, as praias…”, concluiu.