Turquia. Putin foi a Istambul para falar de energia e da Síria

Presidente russo e Erdogan procuram a reaproximação através da construção de um gasoduto

A visita de Vladimir Putin a Istambul, na segunda-feira, para participar no Congresso Mundial da Energia, foi o pretexto perfeito para os dois gigantes, Rússia e Turquia, reatarem uma relação muito fragilizada nos últimos tempos.

O abate de um caça russo que voava perto da fronteira entre a Turquia e a Síria, no ano passado, levado a cabo por dois aviões turcos, resultou numa séria troca de acusações – Putin, por exemplo, disse que Ancara era “cúmplice de terroristas”- e em sanções económicas de parte a parte.

No encontro do G20, no início do mês de setembro, foi feita uma aproximação subtil entre Erdogan e Putin, no sentido de serem ultrapassadas algumas divergências de fundo, já depois de o chefe de Estado turco ter emitido um pedido de desculpas, em junho, evitando assim o corte total de relações diplomáticas.

Neste sentido, o campo energético será o primeiro passo rumo a um novo relacionamento de cooperação.

“Nos últimos 50 anos, fornecemos energia à União Europeia”, começou por dizer o presidente Putin, citado pela Al-Jazeera, no seu discurso no congresso. “Agora estamos a trabalhar num segundo projeto. Estamos a negociar um fluxo turco com Erdogan e outros parceiros”, anunciou.

O projeto de construção de um gasoduto entre os dois países não é novo e apenas esteve suspenso devido às tensões diplomáticas recentes. O objetivo é transportar 63 mil milhões de metros cúbicos de gás natural por ano, para a Europa, através do Bósforo.

Durante o seu discurso, Putin também elogiou a forma como a Turquia respondeu à tentativa de golpe de Estado do dia 15 de julho e como “manteve o controlo”. “Estamos muito satisfeitos por a Turquia estar a recuperar e desejamos-lhe sucesso”, disse o líder russo.

Para além do acordo em matéria energética, o encontro de ontem serviu também para Putin e Erdogan falarem sobre a guerra civil na Síria. 

O líder turco não se revê na liderança de Bashar al-Assad e sempre exigiu a sua deposição, após a derrota militar do autoproclamado Estado Islâmico. Por outro lado, é mais do que conhecido o apoio e financiamento de Putin e da Rússia a Assad, pelo que o encontro entre os dois líderes não deverá alterar as suas posições de fundo, mas sim definir determinados interesses estratégicos na situação presente.

O fim das negociações entre EUA e a Rússia sobre a Síria e o cada vez maior distanciamento entre Erdogan e os principais líderes dos países da União Europeia podem propiciar uma aliança vantajosa para a Turquia e para os russos que Erdogan e Putin quiseram explorar no encontro de segunda. Para já, o primeiro passo é o gasoduto.