Mitos e arbitrariedades entre táxis e plataformas

Uber só exige certificado do registo criminal como requisito para os seus funcionários. Taxistas são obrigados a centenas de horas de formação

Duas grandes acusações, um mito e um problema: desde o início do conflito entre os taxistas portugueses e as novas plataformas privadas de transporte pessoal que os maiores argumentários dos motoristas de táxi passam pela ausência de formação na Uber e por o passageiro da plataforma, alegadamente, não estar protegido por seguro. Devido ao momento de tensão que se vive no setor, todos os testemunhos foram recolhidos sob anonimato.

O i falou com um motorista da Uber que esclareceu que todos os veículos possuem “seguro contra todos os riscos”. Sobre a formação, no entanto, a fonte foi mais reservada. “Depende da equipa.” O termo “equipa” serve, no meio, para designar as empresas que são parceiras da Uber, na medida em que a plataforma não possui qualquer veículo, estabelecendo antes relações com empresas que prestam serviços de motorista. No fundo, é apenas um intermediário digital. O motorista revela que, no caso da sua “equipa”, a formação resume-se a cerca “duas, três horas” e um test drive para confirmar a aptidão do candidato para “uma condução tranquila”. 

“É exigido o certificado de registo criminal, claro, e o currículo é valorizado. A Cabify é semelhante. Depois ensinam-nos a perguntar que rádio o cliente prefere, a abrir a porta do carro, etc.”, conta também. 

O i também falou com um motorista da Cabify que garantiu igualmente que as horas de formação eram “bem inferiores” às 125 exigidas aos taxistas. “Ensinam-nos a oferecer água, vestir bem, ter o carro limpo. O resto fica à responsabilidade dos parceiros”, embora a Cabify incentive a “estabelecer contratos de modo a combater a precariedade”. Já outro motorista de uma das plataformas admitiu que “trabalhar 12 horas seguidas, na Uber ou num táxi, é mau”.

O i falou então com uma ex- -motorista que já esteve em ambas as plataformas. “O escrutínio da Uber, por exemplo, é a nota do cliente. A experiência profissional como motorista não é muito considerada, são abertos a sangue novo”, notou a lisboeta. “Aquilo que necessita de regulação não são as plataformas, são os serviços que já existiam – agências de viagens, empresas de animação turística, chauffeurs, rent-a-cars. Quando a Uber chegou a Portugal, era com este tipo de empresas que se estabelecia. Nem exigiam o certificado de aptidão profissional para motoristas [CAP]”, clarificou também. 

Os taxistas, por outro lado, são obrigados a pagar o CAP e as 125 horas de formação em Mecânica, Inglês e Relações Interpessoais, e coisas básicas como saber funcionar com o taxímetro.