A história de um estoiro “galáxico”

Gigante sul-coreana anunciou o fim da produção do Galaxy Note 7. Empresa já afundou em bolsa, vai gastar mais de 15 mil milhões de euros na recolha dos equipamentos e fica com reputação em xeque

Nasceu para ajudar a Samsung a concorrer com a Apple e era uma das grandes apostas da empresa sul-coreana. No entanto, o tão aguardado Galaxy Note 7 acabou por se transformar num desastre para os responsáveis da empresa. Depois de se multiplicarem casos em que o dispositivo explodiu, a Samsung decidiu colocar um ponto final na produção deste equipamento.

Em comunicado, a empresa explica que foi reajustado “recentemente o volume de produção para reforçar a investigação e o controlo de qualidade, mas colocamos a segurança dos consumidores como prioridade máxima e tomámos a decisão final de parar a produção do Galaxy Note 7”.

Perdas preocupam Uma das consequências dos problemas que este modelo tem dado foi a perda em bolsa. As ações da empresa fecharam ontem a cair 8,04%, o que representa a maior queda em oito anos. No dia 12 do mês passado, os investidores da marca sul-coreana já tinham recuado em cerca de 8,8 mil milhões de euros.

A verdade é que muitos já esperavam que a empresa acabasse por tomar esta decisão. Principalmente, depois de ter sido pedido aos clientes que desligassem os dispositivos enquanto a empresa investigava os problemas que poderiam estar na origem das explosões.

Um dos casos mais graves aconteceu num aeroporto dos EUA, quando um destes dispositivos explodiu durante um embarque. Os motivos para preocupação em relação a este caso aumentaram porque se tratava de um aparelho que já tinha sido substituído e estava na categoria dos dispositivos “seguros”.

Por esta altura, a marca acreditava que tinha resolvido o problema. Mas o aparelho, ainda que fazendo parte da lista dos que já estavam livres de problemas, também entrou em combustão. O proprietário do equipamento desligou-o para entrar no avião e colocou-o no bolso, altura em que o telemóvel começou a deitar fumo, contam diversos meios de comunicação locais.

Em resposta aos vários casos, a empresa decidiu então ser radical e acabar com a produção do modelo. Mas ainda que esta decisão tenha sido tomada para evitar mais problemas, muitos técnicos afirmam que a empresa pode sair muito prejudicada. De acordo com a Reuters, a recolha de aparelhos pode custar à Samsung cerca de 17 mil milhões de dólares (cerca de 15,2 mil milhões de euros) – valor que tem como base os cálculos do Crédit Suisse.

Mas para muitos analistas, o problema não é a perda de receitas ou o que terá de ser gasto a recolher os equipamentos. Em cima da mesa está acima de tudo a preocupação quanto à reputação da empresa.

Segundo os analistas do Nomura, “o incidente pode afetar a procura de outros modelos da Samsung”. E, o cenário não podia ser mais catastrófico. A casa de investimento admite mesmo que pode vir a ser feito um corte nas estimativas de lucros que pode atingir os 85% no quarto trimestre.

No início do ano passado, já se falava do mal-estar no seio da empresa. A crise que começou a afetá-la nos últimos tempos foi essencialmente resultado da divisão da aposta em tablets e smartphones, a mesma que, em tempos, transformou a empresa numa das maiores do mundo das tecnologias.

Como forma de virar a página e deixar a crise para trás das costas, a Samsung anunciava, em março do ano passado, o lançamento de dois smartphones da linha Galaxy que prometiam fazer tremer a concorrência: o S6 e o S6 Edge.

A estratégia voltaria a repetir–se, agora com o Note 7 a competir com o iPhone 7. A verdade é que a Samsung quis adiantar-se no lançamento do novo modelo, mas nada correu como previsto.

A guerra já se tornou quase uma tradição. Recorde-se que as empresas chegaram a ser notícia por se acusarem mutuamente de copiarem os designs e também as tecnologias dos dispositivos móveis.

Luta de gigantes
No final de 2014, a Samsung era a maior empregadora no mundo da tecnologia. Neste ano, a empresa empregava mais de 275 mil pessoas, cinco vezes mais que a Google. Em 2012, por exemplo, já muito a Apple se preocupava com o crescimento das vendas das marcas concorrentes, nomeadamente da Samsung. Neste ano, segundo o Gartner Group, a sul-coreana fechava com 32% do mercado mundial de smartphones, contra os 20% da Apple.

Com a morte de Steve Jobs, fundador da marca com o emblema da maçã, o mercado mudou ainda mais depressa. Tinha passado apenas um ano desde a morte do “génio” e já havia mudanças significativas no mercado. Nos EUA, uma pesquisa divulgada, no início de 2013, pela empresa Buzz Marketing Group mostrava que a Apple já não era unânime entre os mais jovens.

Também a Forbes, por esta altura, citava números do banco de investimento Piper Jaffray que mostravam que 67% dos adolescentes americanos queriam ter um iPhone. Um ano antes, a preferência pela Apple era de quase 100%.