Caos nos transportes públicos. Azar ou incompetência?

Falta de bilhetes de metro dominou audição com ministro do Ambiente. “Tivemos azar”, disse João Matos Fernandes

Deixar acabar os bilhetes nos transportes de Lisboa é azar ou incompetência? As duas coisas. “Quem tem mais azar é quem utiliza os transportes públicos”, reconheceu o ministro do Ambiente. A incompetência é do anterior governo, garantiu João Matos Fernandes, numa audição, a pedido do PCP, na comissão parlamentar de Economia, Inovação e Obras Públicas. “Ter um sistema só com um fornecedor é má gestão. Saber disto desde 2011 não é azar, é incompetência”, disse o ministro.

A falta de bilhetes nos transportes públicos foi o principal tema da audição com todos os partidos a criticarem o caos que se instalou na cidade de Lisboa. Virgílio Macedo, deputado social-democrata, garantiu mesmo que sentiu na pele este problema: “Estive há oito dias no aeroporto de Lisboa uma hora e meia para carregar o meu Cartão Viva com uma viagem de um euro e 40. Acha isto aceitável? Estive na fila uma hora e meia com uma montanha de turistas. Todos a olhar uns para os outros”.

O ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, explicou várias vezes, ao longo de mais de duas horas, as causas da rutura. “É verdade que já com este governo em vigência tivemos azar. Tivemos azar com os bilhetes. Tivemos o azar de ter um governo antes do nosso que cortou de forma cega o investimento nas empresas e forçou a redução dos stocks, incluindo de bilhetes”.

O que aconteceu, explicou o ministro, foi que “um sistema que sempre esteve dependente de mais do que um fornecedor de cartões, está limitado a um só e esse fornecedor objetivamente falhou um compromisso contratual de fornecimento”.

O “azar” foi invocado pelo ministro logo na primeira intervenção. A expressão espantou a oposição. “Uma palavra que é todo um programa”, disse o deputado social-democrata Paulo Rios, garantindo que “se o governo anterior tivesse invocado, uma vez que fosse, a palavra azar teria sido enforcado em praça pública”. Se o ministro invocou a herança de Passos, o PSD foi mais atrás e lembrou a situação deixada pelos socialistas em 2011: “Azar foi encontrar o sistema de transportes com um volume de dívida que era igual a 10% do PIB”.

“O CAOS INSTALADO”
PSD e CDS criticaram o governo por ter deixado os transportes públicos atingir uma situação caótica. Carlos Silva, do PSD, defendeu que “o caos instalou-se nos transportes públicos”. Helder Amaral, do CDS, criticou Matos Fernandes por atirar as culpas para o governo de direita. “Temos aqui o caos instalado e o senhor diz que a culpa é do governo anterior. Encontram-se 18 comboios do Metro de Lisboa parados, à espera que sejam compradas peças para a reparação. O que é que isto tem a ver com o governo anterior?”.

O ministrou ouviu, mas não mudou a agulha. João Matos Fernandes justificou os problemas nos transportes com a redução do número de trabalhadores feita pelo governo de Passos e uma situação “completamente calamitosa do ponto de vista dos investimentos em manutenção”. O ministro juntou a estas condicionantes o facto de “estarmos no Verão” e haver mais turistas que compram bilhetes ocasionais. “As coisas juntaram-se para que, inevitavelmente, houvesse uma degradação da operação e a falta de bilhetes teve um papel indesmentível”. Matos Fernandes garantiu, porém que “nunca houve ninguém que deixasse de fazer a viagem por falta de bilhete”, embora “o ritmo da sua venda seja certamente moroso e não deixamos nunca de pedir desculpa”

A solução passa por contratar mais dois fornecedores. Os testes já começaram a ser feitos e o ministro deixou a garantia de que quando o novo sistema estiver a funcionar a possibilidade de voltarem a acontecer situações como esta “é praticamente inexistente”.

 

o que dirão os turistas? Apesar das garantias deixadas pelo governo, PSD e CDS quiseram deixar claro que os transportes públicos pioraram desde o nascimento do governo de esquerda. “Os serviços públicos de transportes estão piores do que estavam no ano passado”, disse o centrista Hélder Amaral. O deputado do CDS alertou que a atual situação tem “impacto na imagem da cidade” e penaliza o turismo. “Imagino o que diz um turista que é confrontado com 3 horas de espera. O azar não é do senhor ministro, é de quem utiliza os serviços”.

Virgílio Macedo, do PSD, garantiu que “os transportes estão muito pior e este episódio dos bilhetes é inaceitável. É esta a imagem que estamos a dar do país”.