André Silva: superstar

Quatro golos nos últimos dois jogos pela Seleção A fizeram do avançado de 20 anos a nova coqueluche do futebol nacional – por alguns dias, ninguém falou de Cristiano Ronaldo. Agora, já nenhum adepto em Portugal precisa de chorar pela ausência de um matador.

André Silva: superstar

A semana que passou produziu o novo grande fenómeno do futebol português: com apenas 20 anos, André Silva entrou no folclore nacional e já não sai das bocas de nenhum adepto do desporto-rei em Portugal. No espaço de três dias. o avançado do FC Porto marcou quatro golos em dois jogos ao serviço da Seleção Nacional – e com o hat trick nas Ilhas Faroé, tornou-se mesmo no jogador mais jovem de sempre a conseguir tal façanha por Portugal, além de ser o primeiro a conseguir fazer três golos num só jogo pela Seleção nos últimos dez anos… exceto Cristiano Ronaldo, obviamente.

A exibição retumbante no longínquo país situado no Mar do Norte, entre a Noruega e a Islândia, teve ainda o condão de acabar com as preocupações – já quase seculares – em relação à ausência de um avançado português que seja, de facto, um goleador. Durante anos, tem sido essa a maior causa de lamentos e críticas dos adeptos quando se fala da Seleção nacional, e nem Pauleta, Nuno Gomes ou Hélder Postiga, todos eles com números muito bons ao serviço de Portugal, conseguiram fintar na totalidade a desconfiança geral. Já para não falar de Éder, que por algumas semanas foi herói nacional… até voltar à rotina: muito trabalho, muita atrapalhação, zero golos. A média de André Silva, de resto, pulveriza por completo a do autor do golo mais importante da história do futebol português: enquanto o homem nascido na Guiné-Bissau soma quatro golos em 32 jogos por Portugal, o prodígio portista apontou o mesmo número… em apenas quatro jogos.

 

Forjado no salgueiral, projetado no olival

André Silva começa já a perfilar-se como um nome grande na história do FC Porto – pelo menos na história recente –, mas curiosamente fez a maior parte da formação noutro clube histórico do grande Porto… que veste de vermelho: o Salgueiros, que nos anos 80 e 90 marcou alguns momentos de ouro no principal escalão do futebol nacional. Foi ali, no velho Salgueiral, que o pequeno André começou a rebentar com as defesas contrárias. Uma delas precisamente a do FC Porto: num domingo de 2010, o jovem André marcou um golo, o Salgueiros venceu por 3-2 em pleno covil do dragão e os azuis e brancos não perderam mais tempo. A partir dos 16 anos, André Silva foi colecionando números impressionantes nos escalões de formação portistas, mantendo-se profícuo na passagem ao patamar profissional – entre os 18 e os 20 anos, marcou 27 golos pela equipa B, na II Liga.

A meio da temporada passada, começou a ser chamado por Julen Lopetegui, como prémio pelo trabalho que ia fazendo ao serviço dos bês – e que lhe garantiu o prémio de Melhor Jogador da II Liga, entregue… precisamente na semana que agora findou. Dias felizes para o menino André.

Foi, porém, apenas com José Peseiro, e já na fase final da época, que André Silva ganhou a titularidade na equipa principal do seu clube do coração. E não fez a coisa por menos: na final da Taça de Portugal, quando a equipa mais precisava – o FC Porto perdia por 2-0 com o Braga aos 58 minutos –, André Silva marcou dois golos, devolvendo o FC Porto à luta pelo resultado.

O dragão acabaria por perder nos penáltis, mas André não mais deixou fugir o lugar – nem a confiança de dirigentes, treinadores e adeptos. Esta época, já soma seis golos em 11 jogos às ordens de Nuno Espírito Santo, e os predicados que vai evidenciando – mudanças de velocidade, capacidade técnica com ambos os pés, toque de bola, inteligência posicional e muito, muito faro para o golo – permitem depositar grandes esperanças nestes 1,85 metros e 79 quilos de talento puro. No início de setembro, foi distinguido pela UEFA como o jovem talento da semana, fruto de um golo e duas boas exibições perante os italianos da Roma, no play-off de apuramento para a Liga dos Campeões. Esses feitos levaram à renovação de contrato por mais cinco anos, com uma cláusula de 60 milhões de euros – números impressionantes para um jovem de 20 anos.

 

O hábito de faturar já vem de longe

Nas seleções, André Silva também já tinha historial. Pelos sub-19, marcou cinco golos na caminhada até à final do Europeu de 2014, acrescentando-lhes mais cinco no Mundial de sub-20 em 2015. Não há aqui grande ciência: é um craque em potência. Rima e é verdade.