Os salários da CGD e as obsessões em curso

Há qualquer coisa de pornográfico no facto de a nova gerência da Caixa Geral de Depósitos, o banco público, ver os seus salários aumentados para o dobro quando, ao mesmo tempo, não há dinheiro para mais nada – nem para o investimento público, nem para as pensões miseráveis dos “agora-talvez-não-tão-pobres-assim”, segundo o novo léxico do…

A “mediana”, expressão utilizada pelo ministro das Finanças, Mário Centeno, dos valores pagos na banca para justificar o brutal aumento do nosso imposto relativo ao salário do novo presidente da Caixa é imoral, tendo em conta que estamos a falar de um banco público.

A banca foi responsável pela crise; a má gestão foi responsável pela crise na Caixa Geral de Depósitos. Temos pago, ao longo dos anos, demasiado aos banqueiros e aos gestores bancários que se comportaram de forma criminosa, colocando em causa o sistema financeiro.

Os portugueses têm direito a ter uma gestão pública da Caixa Geral de Depósitos que não os envergonhe. Essa é a mediana justiça. Que seja um governo de esquerda a fazer disparar os salários dos gestores da Caixa – a que acrescem prémios em função da “produtividade”, como se já não chegassem os vencimentos mensais – é um susto e um insulto a quem pagou e está a pagar a crise da banca, todos nós.

Como é preciso entreter, e não há coragem política para enfrentar as coisas verdadeiramente sérias, o governo inventou uma nova lei do tabaco que prevê, basicamente, que seja proibido fumar em qualquer lado. Basta ler a extensa lista dos lugares onde não se pode fumar, na página 4 e 5, para se concluir que é em lado nenhum.

A obsessão antitabágica é um bocado como a obsessão pelo défice, agora misteriosamente transformada em bandeira da esquerda, à conta dos compromissos europeus.

É um fundamentalismo tosco feito com o mesmo espírito da “Lei Seca” na América dos anos 20: consola imensamente os moralistas e não serve para nada. Os salários da CGD e as obsessões em curso