Ala esquerda e ala direita do PS trocam acusações

Pedro Nuno Santos dizia ao SOL há duas semanas que “antes havia uma ala esquerda do PS, hoje há uma pequena ala direita”.

A afirmação não caiu bem nos (poucos) que ainda se assumem publicamente contra a opção de governação apoiada à esquerda tomada por António Costa. Hoje, Francisco Assis voltou ao tema no Público para defender a tese de que o Orçamento do Estado para 2017 não só não é de esquerda como constitui uma rendição à Europa. A opinião polémica não ficou sem resposta: Porfírio Silva, dirigente socialista próximo de Costa, veio tentar desmontar o que considera ser um truque de Assis.

"O Orçamento agora apresentado revela uma característica fundamental: António Costa está mais preocupado com Bruxelas do que com o Bloco de Esquerda e o PCP. É certo que atende a algumas reivindicações destas forças partidárias – nalguns casos com consequências ulteriores potencialmente negativas – mas no essencial procura respeitar os exigentes critérios estabelecidos a nível europeu em matéria de cumprimento de objectivos nos domínios do défice orçamental e da dívida pública", defende Francisco Assis.

Assis cita mesmo Catarina Martins para desmentir a declaração de Mário Centeno este sábado ao Expresso que afirmava que este era um "Orçamento de esquerda".

"O PSD devia dar os parabéns pelo Orçamento de Estado. O Bloco de Esquerda é que tem dúvidas que este seja o melhor caminho", disse a líder do BE numa frase recuperada pelo socialista crítico da solução à esquerda para provar que, afinal, António Costa está mais ao centro do que os críticos próximos de António José Seguro – como ele próprio – o acusaram de estar.

Ora, se antes Assis apontava o dedo à viragem à esquerda do PS, a mudança de posição não passou  ao lado de um dos dirigentes socialistas vistos como parte da ala esquerda socialista que agora Pedro Nuno Santos – também ele parte desse grupo – considera ser já a maioria no partido.

"Assis, depois de ter diabolizado António Costa, a sua política e os seus apoiantes, percebendo que a realidade não confirmava nenhuma das suas previsões catastrofistas, "volta a perceber" que António Costa é genial. Em outras peças, completa a teoria: António Costa é genial, a sua política é que é má. E, já agora, António Costa é genial, os que o apoiam é que são uma desgraça", escreve Porfírio Silva num post no Facebook, considerando que o que o eurodeputado socialista faz no seu artigo no Público não passa de um "truque".

"Não é original, é mesmo um truque antigo, mas há sempre quem escolha essa técnica", avisa Porfírio, que considera que este tipo de argumentação vai ganhar espaço à medida que PS, BE, PCP e PEV parecem mais dispostos a valorizar o que os une do que aquilo que os separa na construção de uma solução de estabilidade governativa.

"Estejamos atentos, porque Assis é um prodígio político, capaz de inventar sempre uma saída para qualquer situação política que tenha infirmado totalmente as suas teses. A teoria antes exposta bem pode ser a chave para o ensaio de um novo prodígio da lavra de Assis", conclui Porfirio Silva.