PSD acusa Medina de beneficiar de dinheiro de amigo de Sócrates

Presidente do PSD/Lisboa diz que autarca também recebeu “dezenas de elogios” no blogue Câmara Corporativa, que era financiado por Carlos Santos Silva, o amigo de José Sócrates.

Em carta aberta ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa, o PSD acusou ontem Fernando Medina de beneficiar da generosidade financeira de Carlos Santos Silva, o empresário que se tornou conhecido com a Operação Marquês por emprestar dinheiro a José Sócrates.

De acordo com a missiva assinada pelo presidente do PSD/Lisboa, Mauro Xavier, depois de vir a público que um assessor de Medina, António Peixoto, “terá sido pago por José Sócrates para criar e manter um blogue para defender o governo”, é também possível confirmar nos arquivos “dezenas de elogios e referências” dirigidas também a Fernando Medina, enquanto secretário de Estado de José Sócrates e, mais recentemente, como presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

Neste sentido, Mauro Xavier conclui que Medina também beneficiou dos empréstimos de Santos Silva. Irónico, o social-
-democrata não critica “a forma como [Medina] resolve as suas carências de reconhecimento”. O que importa, diz Xavier, é garantir que “essas carências não ficaram tratadas com o dinheiro dos lisboetas”.

De seguida, o líder lisboeta dos sociais-democratas lança uma série de dúvidas. Foi Sócrates a recomendar António Peixoto para assessor ou foi Medina a recomendar Peixoto para blogger apoiante? Os elogios continuam a ser feitos? Os pagamentos de Sócrates a Peixoto coincidiram com o salário de assessor na câmara? E, por fim, Medina sabia “beneficiar diretamente da generosidade financeira de Santos Silva”?

Contactada pelo i, a Câmara de Lisboa recusou responder à carta aberta por, à hora do fecho desta edição, não a ter ainda recebido. Fonte camarária afirmou, todavia, que “tudo o que está lá escrito não bate certo com o que vem no ‘SOL’”, visto que, segundo a notícia do semanário, “era o pai [de António Peixoto] que escrevia e o filho que recebia”.

Na edição do passado fim de semana, o semanário revelava que, para o Ministério Público, José Sócrates pagava uma avença mensal de 3550 euros a um blogger em troca de opiniões favoráveis. “O blogger em causa, António Peixoto, escrevia sob o pseudónimo de Miguel Abrantes no blogue Câmara Corporativa (também conhecido como Corporações), criado em 2005.”

Os pagamentos seriam feitos ao filho, António Mega Peixoto, que é assessor de Fernando Medina na Câmara Municipal de Lisboa, a partir da RMF – uma sociedade detida por arguidos da Operação Marquês. Desde 2012 que o assessor do presidente da câmara passava os recibos à RMF, revelou ainda o “SOL”.

Ao longo da investigação, António Peixoto já foi confrontado pelo DCIAP (Departamento Central de Investigação e Ação Penal) sobre as transferências mensais de 3550 euros que recebeu ao longo da década em que escreveu para o blogue.

Araújo nega envolvimento
A defesa de José Sócrates não tardou a responder. João Araújo, advogado do ex-primeiro-
-ministro, negou que Sócrates tenha pago a qualquer blogger, considerando os factos na notícia “absurdos e inteiramente falsos, e correspondem apenas a injuriosas e difamatórias especulações da investigação e do Ministério Público”.

Segundo a nota que Araújo enviou ontem à imprensa, Sócrates “apenas conheceu um dos seus autores [do blogue] em finais de 2012 e nunca lhe pagou nem para ele obteve qualquer remuneração”.

A defesa de Sócrates considera esta mais uma “violação do segredo de justiça”, visto tratarem-se “de factos e elementos do processo que, até conclusão do inquérito, estão criminalmente protegidos por segredo de justiça relativamente a terceiros, precisamente para garantia de direitos fundamentais dos cidadãos que abusivamente continuam sujeitos à condição de arguidos”.

Araújo afirma que “está há muito demonstrado no inquérito: o eng.o José Sócrates não é dono de qualquer dinheiro ou de quaisquer bens do eng.o Carlos Santos Silva”.