Valónia ameaça acordo comercial com Canadá

Os socialistas valões dizem que o CETA prejudica os seus produtores de carne de vaca e porco.

A Valónia não arreda pé e mantém-se no caminho da ratificação do CETA, o vasto acordo de livre comércio negociado ao cabo dos últimos sete anos entre a União Europeia e o Canadá.

Os líderes nacionais e regionais belgas tentaram esta segunda-feira um novo encontro de emergência para tentar convencer os representantes da pequena região a levantar o seu veto ao acordo, permitindo que a cerimónia marcada para quinta-feira avançasse como o planeado, mas o primeiro-ministro, Charles Michel, anunciou que os socialistas valões não mudaram de posição e que, assim sendo, pelas leis do seu país não pode sancionar o acordo – já os outros 27 Estados-membros o fizeram.

“A resposta do governo valão não nos surpreendeu tendo em conta a sua política de cadeira vazia”, disse esta segunda-feira Charles Michel, referindo-se ao facto de o líder da região não ter comparecido no encontro marcado para domingo.

“Estivemos diante uma cadeira vazia esta segunda e hoje silêncio dos representantes valões”, afirmou, no fim do deadline atribuído ao seu governo pelo Conselho Europeu, que lhe dera até ao fim do dia para encontrar um acordo que satisfizesse a região francófona de três milhões e meio de habitantes. O acordo foi aprovado pelas restantes regiões belgas – que têm poder de veto sobre tratados firmados pelo governo central.

O governo valão diz que o CETA vai deixar os seus produtores de carne de vaca e porco numa posição de desigualdade. O acordo de livre comércio elimina quase todas as tarifas hoje aplicadas às transações entre o bloco europeu e o Canadá, algo que é pouco apreciado numa região com tradições operárias como a Valónia.

Os socialistas estão em maioria no parlamento regional e queixam-se da pressão que lhes está a ser imposta por outros Estados-membros. “Queremos trazer de volta a lei e a democracia para estes grandes tratados, que afetam o dia a dia dos nossos cidadãos”, disse o presidente do parlamento Valão, André Antoine.

“Ainda há tempo”, disse Donald Tusk, o presidente do Conselho, depois de uma conversa com Charles Michel. O primeiro-ministro canadiano, por sua vez, ainda não cancelou a visita de quinta-feira para a ratificação do acordo.