PCP atira-se ao Bloco de Esquerda por causa de Cuba

Comunistas desafiam BE  “a dizer, de facto, o que pensa de Cuba”. A ausência dos bloquistas na visita do PR abriu mais uma polémica à esquerda 

O PCP não deixou passar em claro a ausência do Bloco de Esquerda na visita de Estado do Presidente da República a Cuba. Os bloquistas foram o único partido a recusar o convite de Marcelo Rebelo de Sousa, que começa hoje com um passeio pelo centro histórico de Havana uma visita de dois dias a Cuba. 

O PCP não perdeu a oportunidade de se atirar ao BE. “Que o BE não vá a Cuba na comitiva do Estado português não me espanta muito. O que já me espanta é que o BE sempre tão lesto na comunicação não explique as razões de tal decisão. Era importante”, afirma Ângelo Alves, que pertence à Comissão Política do PCP. Ângelo Alves pede ao Bloco de Esquerda para ser “claro” e “diga de facto o que pensa de Cuba, do seu povo, das suas relações internacionais, dos constrangimentos a que está sujeito, do papel que tem na região…”. Até porque, continua o dirigente comunista, “um partido que se afirma de esquerda, e que em muitas questões age como tal, deveria de forma séria e responsável justificar uma decisão que não se toma de ânimo leve. Quer pelo facto de recusar um convite da Presidência da República para um ato de representação externa do Estado português, quer pelo outro importante facto de com esta decisão estar a advogar, objetivamente, o isolamento político e diplomático de Cuba”.

Ângelo Alves, num texto publicado ontem nas redes sociais, desafia o Bloco a esclarecer um conjunto de questões relacionadas com a ausência nesta viagem: “O Bloco acha que o facto de o Presidente da República portuguesa visitar Cuba é um fator político negativo para as relações externas portuguesas? Está contra o aprofundamento das relações entre os dois países? Cuba deve ou não ter relações diplomáticas, culturais, políticas, com Portugal? E económicas? É o BE a favor ou contra o bloqueio a Cuba? Considera que o Presidente da República não deve visitar aquele país?”.

O esclarecimento do BE surgiu na terça-feira à noite através do esquerda.net. Os bloquistas argumentam que a decisão foi “tomada em linha com a prática histórica do partido, que sempre limitou muito a sua participação em visitas de Estado. Com três presidentes da República – Jorge Sampaio, Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa –, o Bloco limitou a sua participação a visitas a países com fortes comunidades portuguesas ou de língua portuguesa, com muito poucas exceções”. O BE alega ainda que “nos dias 28 e 29 de outubro, os deputados do Bloco encontram-se reunidos nas jornadas parlamentares do partido, que se realizam nos distritos de Vila Real e Bragança”.

“Oportunismo” As explicações dadas pelo BE através do jornal oficial não travaram as críticas do PCP. O deputado Miguel Tiago lamenta a indefinição. “Nada como ser tudo e não ser nada para agradar a toda a gente. Neste caso, como nos outros, o marketing pode funcionar para o BE, mas o futuro não se fará de indefinições. Em cima do muro não se fazem revoluções. Em cima do muro não há socialismo, só oportunismo”.

O PCP, em resposta às questões do i sobre a visita do chefe de Estado, considera que a visita “constitui um desenvolvimento positivo no desejável estreitamento de relações bilaterais entre Portugal e Cuba tendo por base os interesses comuns dos respetivos povos”. O0 PCP defende, porém, que “serão os passos subsequentes que permitirão avaliar dos desejáveis resultados concretos desta visita no aprofundamento das relações políticas, económicas e culturais entre Cuba e Portugal, indissociável de uma posição clara de Portugal e dos seus órgãos de soberania pelo fim do bloqueio dos EUA contra Cuba, do fim da posição comum da União Europeia de ingerência contra aquele país latino-americano, e de respeito pelas escolhas soberanas do povo e Estado cubanos”.
Todos os restantes partidos convidados por Belém aceitaram integrar a comitiva oficial do Presidente da República. Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD, Hélder Amaral, do CDS, José Luís Ferreira, deputado do PEV e António Filipe, deputado do PCP; já partiram para Havana.
 
Marcelo com Fidel A visita arranca hoje de manhã com um passeio pelo centro histórico de Havana e terá como um dos pontos altos o encontro, da parte da tarde, com Raul Castro, presidente do Conselho de Estado e Conselho de Ministros. A expectativa de Belém é que, apesar de não constar do programa, Marcelo Rebelo de Sousa possa encontrar-se com o líder histórico Fidel Castro a seguir ao almoço de encerramento do Fórum Empresarial Portugal-Cuba. O encontro foi solicitado por Marcelo Rebelo de Sousa e aceite por Fidel Castro.