Fórmula 1: luta sobre a tragédia dos irmãos Rodríguez…

Pedro e Ricardo deram o nome ao circuito que recebe, este domingo, mais um episódio do combate entre Rosberg e Hamilton e que até pode vir a ser decisivo 

Pedro e Ricardo: “Los Hermanos Rodríguez”, como ficaram conhecidos. Pedro era o mais velho – nasceu a 18 de Janeiro de 1940; Ricardo o mais novo – 14 de Fevereiro de 1942. Ambos naturais da Cidade do México, essa urbe gigantesca com cerca de 9 milhões de habitantes, assente num planalto com 2240 metros de altitude. É aí que se disputa, este domingo, o Grande Prémio do México de Fórmula 1, antepenúltimo da temporada e que pode deixar o título de campeão do mundo nas mãos de Nico Rosberg.

Desde 1963, que se disputam corridas neste autódromo que fica ligado à enorme tragédia de dois irmãos que se sentiam felizes atrás dos volantes. Ricardo foi, desde muito jovem, um activista para que o seu país tivesse um Grande Prémio: sonhou com o circuito de Magdalena Mixhuca. Sonhos breves de quem haveria de desaparecer cedo. No dia 1 de Novembro de 1962, ainda não tinha completado 20 anos, morreu conduzindo um Lótus 24 na temida curva Peraltada, em Magdalena. Tinha tudo para vir ser um dia campeão. E fizera testes na Ferrari. Pedro, o irmão, sobreviveu-lhe mais nove anos: a 11 de Julho de 1971, quando o seu Ferrari 512M, de Interserie, se despistou ao ultrapassar um adversário atrasado, na pista de Norisring, em Nuremberga. Participou em 71 Grandes Prémios de Fórmula 1 pela Lótus, Ferrari e BRM. A morte do irmão abalou-o de tal forma que pensou em disistir do automobilismo. Aguentou. Segui-lo-ia no mesmíssimo destino de ferros retorcidos sobre o asfalto.

Em 1963 Pedro estava no grupo dos pilotos que inauguraram o autódromo que viria a ter, um dia, o nome dos dois irmãos Rodríguez. Era um dia feliz para o mexicano, embora um problema com a suspensão do seu Lótus 25 o tenha obrigado a desistir. Jim Clark, seu colega de equipa tornar-se-ia no primeiro vencedor de um Grande Prémio mexicano. Quanto a Rodríguez, o sobrevivente, o melhor que conseguiu, em casa, foi um quarto lugar, em 1968. Só venceria duas  provas de Fórmula 1 até ao final da carreira e da vida: África do Sul em 1967 e Bélgica em 1970.

Mas andemos no tempo para a frente, e para os dias de hoje. Nico Rosberg segue na frente do Mundial com 331 pontos, seguido do seu colega da Mercedes, Lewis Hamilton, com 305. Se o alemão vencer no México e o inglês ficar abaixo do 10º lugar, o título fica desde logo atribuído ao primeiro. Na última prova do campeonato, nos Estados Unidos, Hamilton ganhou e deixou um pouco de suspense sobre o desfecho da luta que se prolongou por toda esta época. Depois do México, ficarão a faltar os Grandes Prémios do Brasil e do Abu Dhabi, isto é um máximo de 75 pontos disponíveis. Desta forma é só fazer contas. 

Lewis Hamilton, o homem de Stevenage, no Yorkshire, e que exibe um sorriso quase constante como o do gato da Alice, partiu como defensor do título, ou melhor, dos títulos, já que conquistou os dois últimos. Mas o início iluminou Rosberg, filho do piloto finlandês, Keke, com uma vitória na Austrália. Depois, encarrilou no caminho dos triunfos: Bahrein, China e Rússia. Estava embalado. Hamilton fraquejava: um segundo, um terceiro, um sétimo e, finalmente, outro segundo nas quatro primeiras provas. Percebeu-se que teria de melhorar grandemente as suas performances. Nos três Grandes Prémios seguintes, Espanha, Mónaco e Canadá, uma desistência (Rosberg também desistiu no Barcelona-Catalunha) e duas vitórias consecutivas. As coisas equilibravam-se. 

O desastre da Malásia Mais uma vez, a Mercedes provava que não tem rival à altura e se dá ao luxo de colocar os seus dois pilotos em guerra um contra o outro. Com alguns episódios pouco edificantes pelo caminho. Nico Rosberg vence o Grande Prémio da Europa, e Hamilton responde com uma quadrupla: Áustria, Inglaterra, Hungria e Alemanha. Resposta imediata do germânico: vitórias na Bélgica, em Itália e em Singapura. Na Malásia dá-se o desastre. 
No circuito de Sepang, Lewis Hamilton viu-se a contas com problemas no motor do seu carro e desistiu. Rosberg conseguiu o terceiro posto, atrás do australiano Ricciardo e do holandês Verstapen, ambos da Red Bull. Daí para cá, mais uma vitória para cada um: Japão e Estados Unidos.

No total, Nico Rosberg conta agora com nove triunfos contra sete do seu colega de equipa. Margem suficiente para encarar as três provas que faltam com uma tranquilidade de que Hamilton não pode gozar. Duas vezes classificado atrás do inglês nas últimas edições do Campeonato do Mundo, ei-lo à beira do seu primeiro grande título. Nesse aspecto, Lewis Hamilton leva vantagem: já tem três.

Pode ser que nada se resolva na Cidade do México. Até é mais provavel que assim aconteça. Mas o circuito de “Los Hermanos Rodríguez” será palco de mais uma homenagem aos dois irmãos mexicanos que chegaram à Fórmula 1. E que ficaram para a história da modalidade marcados com o destino triste de uma tragédia de família.