O sobrevivente em que ninguém apostaria

Depois de duas eleições e muitos casos de corrupção toma de novo posse Mariano Rajoy.

O sobrevivente em que ninguém apostaria

Mariano Rajoy Brey, de seu nome, nasceu em Santiago de Compostela em 21 de março de 1955. É neto de um dos redatores do Estatuto de Autonomia da Galiza, datado de 1932. O neto de Enrique Rajoy Leloup, assim se chamava o seu avô, tem uma longa carreira política: filiou-se no partido pós-franquista, Aliança Popular, foi eleito deputado regional em 1981; foi vereador da Câmara de Pontevedra; foi presidente da Xunta da Galiza (governo autonómico); depois da transformação da AP em Partido Popular integra a sua comissão executiva em 1989; com a vitória de José Maria Aznar foi sucessivamente ministro da Administração Pública, ministro da Educação e Cultura, ministro do Interior e ministro da Presidência. Quando Aznar resolva sair depois de oito anos de governo, Rajoy é derrotado em duas eleições sucessivas. À terceira, é de vez, e chega a presidente do governo de Espanha. Enquanto ministro da Educação, em 1999, aprovou a elaboração de um Dicionário Biográfico da Real Academia da História, uma obra magna com 50 volumes, no volume 42 está o perfil de Rajoy. Aí se garante que é «amante da leitura e apaixonado dos desportos, introvertido e discreto». Nessa entrada podemos ler o papel determinante do político para resolver todas as crises que a Espanha viveu nas últimas décadas: Perejil [ocupação pelos marroquinos de um rochedo espanhol], o envolvimento da Espanha na guerra do Iraque, e a crise ecológica motivada pelo derrame do Prestige. Não houve dificuldade que o galego não tenha resolvido. O dicionário garante o seguinte da sua gestão como presidente do governo: «entre os objetivos de atuação prioritários do governo, que explicam a sua ampla atividade legislativa, podem destacar-se três: a estabilidade orçamental, o saneamento financeiro e a reforma laboral». Apesar desta boa entrada no dicionário real, a governação de Rajoy teve os seus contratempos. Os escândalos de corrupção atingiram gravemente o PP. Quando o tesoureiro do PP, Luis Bárcenas, foi detido acusado de organizar o pagamento de dinheiro a dirigentes do partido, com verbas de empreiteiros interessados na adjudicação de obras públicas, Rajoy, um dos beneficiários dessas verbas, mandou um SMS a Bárcenas: «Luis, sê forte».

Durante os últimos anos, mesmo durante os dois atos eleitorais, não houve dia que não saíssem notícias sobre a corrupção no Partido Popular. São muitas dezenas os autarcas envolvidos em escândalos de corrupção, são muitas centenas de milhares as páginas dos processos devido a financiamentos ilegais dos populares por parte de construtores civis e empresários. Mesmo durante o dia em que o parlamento indigitou Mariano Rajoy, foi ouvido, no tribunal de Audiência Nacional, no âmbito do caso ‘Gürtel’, Álvaro Pérez ‘El Bigotes’, um dos homens que organizava os comícios de José Maria Aznar.

Mariano Rajoy foi às urnas em dezembro de 2015 e em Junho de 2016. O PP perdeu milhões de votos, mas conseguiu manter-se como primeiro partido de Espanha e perder menos eleitoralmente que o PSOE dirigido por Pedro Sánchez. É hoje líder do novo governo com a abstenção previsível da maioria dos deputados do PSOE.

Rajoy terá uma legislatura difícil, não tem maioria no parlamento, e a situação espanhola não é brilhante, mas fazem mal aqueles que o subestimam.