Dia Mundial da Poupança

Os orçamentos mensais são cada vez mais apertados. Por isso, nem sempre há margem para amealhar e a taxa de poupança das famílias continua em níveis mínimos. Não há soluções milagrosas, mas pequenos truques que pode seguir de forma a conseguir pôr algum dinheiro de parte no final do mês. Os mestres japoneses dão uma…

Depósitos a prazo

Se a sua simplicidade é uma das vantagens, a taxa de remuneração oferecida torna este produto financeiro menos atrativo devido à queda da taxa da Euribor em todos os prazos. Apesar de ter vindo a perder adeptos nos últimos anos devido às taxas de juro que apresenta, continua a ser um dos instrumentos de poupança preferidos dos portugueses. A maioria dos depósitos está a pagar, em média, uma taxa anual líquida na ordem dos 0,4%. Só consegue contrariar esta tendência se procurar as ofertas para novos clientes ou montantes elevados. Mas a verdade é que há bancos que estão a levar esta redução ao limite. É o caso da Caixa Geral de Depósitos, que vai baixar os juros dos depósitos a prazo nas contas dos particulares a partir de novembro. Numa das opções, até cinco mil euros, o banco reduz mesmo a taxa a zero, segundo a informação que está a transmitir aos seus clientes. Na maioria dos depósitos, a remuneração baixa de 0,1% para 0,05%, mas num dos depósitos a prazo a taxa de juro cai de 0,05% para 0%. Esta modalidade prevê a transferência automática entre contas à ordem e de poupança. 

De acordo com os últimos dados divulgados, o saldo de depósitos atingiu os 143 498 milhões de euros em agosto, menos 2119 milhões do que no mês anterior. É certo que não existe nenhuma aplicação financeira que esteja 100% isenta de risco, mas também é verdade que há aplicações que comportam um risco maior do que outras. Se analisarmos a escala de risco dos vários produtos financeiros disponíveis para os aforradores e investidores, os depósitos estão entre as aplicações mais seguras e, no pior cenário e se o banco falir, os clientes podem recorrer ao Fundo de Garantia de Depósitos até 100 mil euros por banco e por titular.

Certificados de aforro e CTPM

A perda de atratividade dos depósitos a prazo está a levar cada vez mais os aforradores portugueses a olharem para os produtos de poupança do Estado. Neste universo, os Certificados do Tesouro Poupança Mais (CTPM) são o produto que mais interesse tem despertado. O montante sob gestão em certificados de aforro e do Tesouro atingiu 23 445 milhões de euros em setembro, 254 milhões de euros (ou 1,09%) acima dos 23 191 milhões registados em agosto, segundo o Banco de Portugal.

No caso do aforro, a taxa de remuneração é calculada com base na média dos valores da Euribor a três meses observados nos dez dias úteis anteriores, acrescida de 1%. Como, atualmente, a Euribor está em valores negativos, a taxa de juro para novas subscrições de certificados de aforro (série D) foi fixada em 0,699% bruta. Já os CTPM apresentam uma taxa bruta de 1,25% no primeiro ano, que é crescente nos anos seguintes, para atingir 2,25%, em termos médios, ao fim de cinco anos. Nos dois últimos anos pode acrescer um bónus, consoante a taxa de crescimento do PIB. Apesar de não ser um valor surpreendente, apresenta uma rentabilidade superior quando comparado com as alternativas existentes. Este produto financeiro destina-se essencialmente a quem esteja interessado em manter este investimento durante o prazo máximo (cinco anos). 

Obrigações do Tesouro

Até há bem pouco tempo, adquirir obrigações do Tesouro (OT) era um bom negócio, já que era uma das formas mais rentáveis de aplicar as poupanças de médio ou longo prazo com capital garantido. Mas o certo é que as OT ganharam uma nova vida quando, em 2016, o Estado lançou as Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV) – o novo produto de dívida do Estado -, esgotando as emissões de maio e de agosto. Este novo produto inverteu a tendência de desinvestimento que as famílias portuguesas vinham fazendo em títulos de dívida (pública e privada) desde 2014. Só no segundo trimestre deste ano, o investimento líquido dos particulares em títulos de dívida do Estado atingiu 800 milhões de euros, de acordo com os últimos dados das contas nacionais financeiras do Banco de Portugal. 

Sem dúvida que este produto é o principal instrumento do Estado para satisfazer as suas necessidades de financiamento. 

Plano Poupança Reforma

Os Planos Poupança Reforma (PPR) têm vindo a perder parte do interesse nos últimos anos, em parte devido à perda de benefícios fiscais. E o interesse de continuar a aplicar em PPR fica circunscrito aos aforradores entre os 40 e os 55 anos. “Quem está a menos de dez anos da aposentação não deve aplicar mais dinheiro em PPR”, refere a DECO. “Se tem um PPR e o desempenho deixa a desejar, transfira-o para outro mais rentável e com menos custos.” O Estado apresenta igualmente um produto próprio, mas também não tem tido grande sucesso. Angariou pouco mais de 7600 aderentes em oito anos e apresenta uma rentabilidade de 2,1%. Para o próximo ano, o governo prometeu um incentivo extra para quem investir neste produto, mas apenas destinado aos jovens. Passam a ser dedutíveis à coleta de IRS 20% dos valores aplicados em contas do regime público de capitalização, com um limite de 400 euros para sujeitos passivos até aos 35 anos e de 350 euros para os restantes contribuintes.

Bolsa

O investimento direto na bolsa ainda assusta muitos portugueses. Pode representar um negócio rentável, mas o risco é sempre mais elevado em relação aos outros produtos de investimento. O investidor pode fazer a compra individualmente, quando escolhe diretamente as ações que deseja, ou através de fundos de ações, ao adquirir unidades de participação de um destes instrumentos. Os especialistas aconselham os interessados a fazer este investimento a prazo (pelo menos a cinco anos) para ultrapassarem as flutuações do mercado. 

Qual a melhor solução para aplicar o seu dinheiro? O melhor é ir investindo de forma periódica e regular. A tendência dos mercados financeiros é para valorizar a longo prazo. O investimento periódico e regular permite ainda expurgar os efeitos da emoção no investimento. Não vale a pena tentarmos adivinhar o melhor momento para investir. 

Não se esqueça, no entanto, de que em momentos de maior incerteza devemos evitar o investimento num determinado ativo. O foco deverá passar por uma estratégia diversificada em que apostamos em vários ativos e, eventualmente, em classes de ativos distintas.

Não se esqueça da regra de “dividir para reinar”: ao escolher títulos de diferentes países e setores, consegue reduzir as flutuações do investimento. 

Tenha em conta o intermediário financeiro: uma opção acertada pode significar uma poupança de muitos euros – isto porque a eleição do melhor intermediário financeiro depende do seu perfil de investidor.

Intenção de poupar é grande

Depois de conhecer os vários produtos em que pode investir de forma a poder fazer um verdadeiro mealheiro, saiba que a maioria dos portugueses têm intenção de aumentar as suas poupanças. De acordo com os dados do Observador Cetelem do Consumo, 53% dos portugueses admitem que querem aumentar as poupanças, uma ligeira subida em relação a 46% no ano passado. Aliás, os portugueses são dos povos que mais tencionam aumentar a poupança na Europa, ultrapassados apenas pelos italianos (56%). Também os romenos (52%), os dinamarqueses (52%) e os britânicos (46%) estão no topo da tabela das nacionalidades com maior intenção de poupar, registando valores acima da média europeia, de 42%. Entre os europeus com menor tendência para poupar encontram-se os espanhóis (22%), os franceses (28%) e os checos (34%). 

Para facilitar nessa tarefa, o ideal é mudar alguns hábitos para que consiga amealhar um pouco mais ao final do mês. O primeiro passo é fazer um verdadeiro raio-X ao seu orçamento familiar e ver onde pode cortar em gastos extra. É o caso, por exemplo, de uma simples ida ao supermercado – usar e abusar dos descontos e tentar comprar os produtos aos melhores preços -, das telecomunicações – esta é uma das faturas que mais pesam no orçamento familiar, tente escolher o melhor tarifário e pagar apenas os serviços que usa , do automóvel – tanto em combustível como no seguro -, entre muitos outros exemplos. Vai ver que ao cabo de alguns meses pode ter uma carteira bem mais recheada e, desta forma, conseguirá investir este valor extra num produto de poupança. 

Siga o método dos japoneses

Para quem, ainda assim, tem dificuldade em poupar, então o melhor é seguir o exemplo dos mestres japoneses. Existem várias formas de gerir o orçamento mensal – através de aplicações informáticas como o Boonzi, usando o Excel ou recorrendo a uma simples folha de papel, mas é o Kakebo que está a ganhar maior relevo e já corre mundo. Trata-se de um método japonês doméstico de controlo do orçamento mensal que significa literalmente “livro de contas para a economia doméstica”. Através de tabelas de despesas (mensais e semanais) e de mapas de entradas e saídas de dinheiro, pretende auxiliar o seu utilizador a organizar as suas contas domésticas de forma a saber sempre quanto gastou e em quê. O princípio do Kakebo é que o utilizador tome consciência de todos os seus gastos ao cêntimo através da representação visual dos mesmos.

Para utilizar o Kakebo, precisa de ir apontando as suas despesas no momento em que ocorrem, ou ir colecionando os recibos das suas compras para registar mais tarde os valores nas tabelas do Kakebo. 

Pensado para um ano completo, o Kakebo está dividido em 12 meses, com folhas específicas para registar as receitas e as despesas fixas nas mais variadas áreas do dia-a-dia: desde despesas de sobrevivência e extras a gastos com cultura e lazer, é importante registar cada cêntimo, todos os dias. Além disso, há ainda espaço para delinear os objetivos financeiros para os próximos 30 dias. No final do mês, analisam-se os gastos e a poupança semana a semana, vê-se se sobrou alguma coisa, reflete-se sobre o que correu bem e o que pode ser melhorado no mês seguinte. No final do ano é possível analisar as despesas dos últimos 12 meses por categorias e verificar os melhores truques e os maiores entraves, entre outros.