Isabel Moreira: ‘Querem fazer de mim uma enfant terrible’

Isabel Moreira diz que vive como «se o sexismo não existisse». A constitucionalista garante que é alvo de alguns ataques só pelo facto de ser mulher.

É descrita como uma deputada polémica. Identifica-se com este rótulo?

Não. Eu penso que isso é uma construção do sexismo, porque é muito corrente, não só em Portugal, pegar-se, até do ponto de vista jornalístico, numa figura feminina que defenda um determinado tipo de causas, como a causa da igualdade de género, que tenha um perfil de independência de pensamento, para criar uma imagem que não corresponde àquilo que a pessoa é. Essa imagem é criada, não para a valorizar, mas para a destruir.

Por que acontece isso?

Uma das questões mais gritantes que tem de ser enfrentada pela sua base é a questão do género e chega a angustiar-me a falta de interiorização de como essa é uma questão que não está a ser atacada. Quando um taxista diz que as leis são como as meninas virgens e devem ser violadas ficámos todos chocados e ficámos todos chocados porque a substância do sexismo é evidente, mas na verdade há muitas pessoas com aquela substância que têm a habilidade de não a verbalizar daquela forma, usam fato e gravata e esmagam as mulheres todos os dias. Eu pura e simplesmente sou socialista, defendo os ideais do PS. Sou profundamente institucionalista, as causas que defendo estão inscritas no programa do PS. Não gosto de uma boa polémica pelo divertimento. Aquilo que eu faço é exatamente o que fazem os outros camaradas. Mas sinto que – e digo-o sem pedir desculpa a ninguém – desde de que tomei posse há uma espécie de obsessão doentia por parte de alguns meios de comunicação social porque querem fazer de mim uma espécie de enfant terrible, que não é institucionalista, que gosta de aparecer por aparecer. Isso é tudo o contrário do que eu sou.

Mas, por exemplo, quando entra no Tinder…

Peço desculpa mas eu não vou responder a uma pergunta que deriva de um assalto aos meus direitos feito pelo Correio da Manhã. Não vou responder a essa pergunta. Nem sequer vou responder se entrei ou não entrei.

Mas deixe-me terminar a pergunta. Quando publica fotografias no Facebook em biquíni não espera…

Não respondo a nenhuma pergunta que derive de um ataque sexista e inadmissível feito por um pasquim que se chama Correio da Manhã. Um ataque que não teria sido feito se eu fosse homem. Um ataque que vem de longe e que foi feito na sequência de eu ter dito ao grupo Cofina que não aceitava o convite deles para participar no dia contra a violência doméstica uma vez que eles tinham publicado as declarações de um menor feitas num tribunal num processo de violência doméstica e de regulação do poder parental. E, portanto, o que eu lhes disse foi que o grupo Cofina tinha ofendido tudo o que aquele dia internacional representava. Até hoje – e já expliquei isto a vários de meios – não houve um único meio de comunicação social que publicasse esta minha reposta. Aliás, no meu Facebook, na véspera de o Correio da Manhã ter feito essa capa, disse: acabei de enviar este mail ao grupo Cofina, amanhã vou ser capa.

E foi?

No dia seguinte. Eu vivo como se o sexismo não existisse e tenho o direito de viver assim. Escolho viver assim e tenho esse direito. Sei que existe e luto contra ele todos os dias. Sou feminista e para mim é uma guerra diária e é uma guerra nos pormenores mais aparentemente inócuos.