Chicago Cubs: os homens que mataram a terrível maldição da cabra

Recentes vencedores dos World Series, os “filhos” de Chicago entraram na história quase 110 anos depois da última conquista…

Em primeiro lugar, meia-dúzia de linhas para leigos, algo que de basebol há muitos, sobretudo em Portugal. A MLB (Major League Baseball), fundada em 1903, é a liga responsável pela organização do basebol profissional nos Estados Unidos e Canadá. Trinta clubes fazem parte da MLB, divididos por duas ligas que regulam cada uma o seu campeonato: a American League e a National League – quinze clubes por lado. Os vencedores dessas ligas disputa aquilo que se chama World Series – decisão do campeão, se quiserem. 

É aí que entram os Chicago Cubs, os “Cubbies” para os mais íntimos. Traduzido à pressa, uma espécie de rapazinhos, ou filhos de Chicago. Clube da parte norte da cidade, joga em Wrigley Field, construído em 1914 sob o nome de Weeghman Park. E se falo aqui dos Cubs, é porque há uma boa razão para isso: foram os vencedores das World Series deste ano, disputadas na passada semana frente aos Cleveland Indians, ao 7º Jogo por uma diferença de 8-7. Um acontecimento! Sim, porque os Cubbies já não ganhavam a competição desde 1908 – têm três vitórias no total e a outra remonta a 1907. Motivo para grandes festejos em Chicago, Illinois, como eles gostam de dizer, à americana, embora exista outro clube de basebol na cidade, os Chicago White Sox, da Zona Sul, e que disputam a American League. Os Cubs jogam na National League. Confuso? Talvez um pouco. Afinal trata-se do desporto favorito nos Estados Unidos da América.

Belos tempos Dias felizes, portanto, para os Chicago Cubs. Ou para os North Siders, como também são conhecidos. Aliás, North Side Nine ou Boys in Blue. Têm mais alcunhas que os chefes da máfia do princípio do século XX: Lovable Loosers, Little Bears, Blue Bears, Babby Bears…

Chega! Vamos a factos. Os Cubs viviam até à passada semana sob a terrível “maldição da cabra”. Parece estúpido e é. Mas é autêntico também. Conta-se já aqui ao lado: William Sianis tinha um tasco chamado Billy Goat Tavern e uma cabra chamada Billy. Deveria ser um bode mas era, de facto, uma cabra. Ora, Sianis era um adepto fervoroso dos Chicago Cubs e fazia questão de arrastar Billy – não se sabe se com a anuência ou relutância do bichinho – para ver os jogos em Wrigley Field. Estávamos em 1945, no pós-guerra. A doutrina divide-se em relação à higiene da cabra. Não restam é dúvidas de que alguns dos que se sentavam nos lugares próximos da dupla se queixavam do cheiro e dos balidos. Sianis foi convidado a deixar Billy em casa e não gostou. Escreveu uma carta muito dura a Phillip Knight Wrigley, o proprietário dos Cubs, grande magnata do negócio das “chewing gum”, cujo vício tinha sido deixado na Europa pelos soldados norte-americanos. Nela expressava com convicção: “You are going to lose this World Series and you are never going to win another World Series again. You are never going to win a World Series again because you insulted my goat!” Ora batatas! O homem não era de meias palavras.

Conclusão imediata: os Chicago Cubs perderam essa edição de 1945 dos World Series frente aos Detroit Tigers. E nunca mais até ao ano da graça de 2016 voltaram a conquistar o troféu. 

Não se sabe porque é que a maldição chegou ao fim. Nestas coisas de maldições, há muita coisa embrulhada em segredos indesvendáveis. O único capaz de atirar alguma luz sobre os surpreendentes acontecimentos seria o colunista Mike Royko, não se desse o caso se já estar morto há quase vinte anos. Royko, que trabalhou muitos anos no Chicago Tribune e ganhou o Prémio Pulitzer, escreveu como ninguém sobre a “terrível maldição da cabra”. E asseverou que William Sianis continuou a ir aos jogos dos Cubs, deixando o animal amarrado a um qualquer poste nas imediações do estádio.

Tantas derrotas Os Chicago Cubs tiveram, ao longo das décadas que se seguiram, equipas fantásticas. Venceram a National League por 17 vezes, mas nunca os World Series, embora tenham lá chegado por 11 vezes. Ídolos como Frank Schulte, Rogers Hornsby, Phil Cavarreta, Ernie Banks ou, mais recentemente, Sammy Sosa, vestiram a camisola azulada que tem um C como emblema. Valeram até um poema, escrito por Franklin Pearce Adams, chamado “Baseball’s Sad Lexicon”, ou o Léxico Triste do Basebol, publicado pela primeira vez no “New York Evening Mail”, no dia 12 de Julho de 1910, e tendo como personagens Joe Tinker, Johnny Evers e Frank Chance: “These are the saddest of possible words/Tinker to Evers to Chance/Trio of bear cubs, and fleeter than birds/Tinker and Evers and Chance”.

Foi nest ambiente de tristeza, quase desgraça, que os Chicago Cubs viveram estes quase cento e dez anos. Cento e dez anos!!! mas a alegria rebentou os diques da submissão. Erguem bem alto o troféu que souberam ganhar contra maldições. Depois deles, só outro clube teve um jejum parecido: com 21 épocas de diferença. Qual? Os vizinhos do sul: Chicago White Sox. Coisas entre genteda “Cidade dos Ventos”…