Xenia Rubinos: Não se metam com ela (que ela não se fica)

A cantora sobe hoje ao palco do Sabotage Club, em Lisboa, para apresentar “Black Terry Cat”, um álbum em que diz o que pensa. Agrade a quem agradar

Quando, amanhã, subir ao palco do Sabotage Club, Xenia Rubinos estará ainda a digerir os resultados das eleições norte-americanas. Ela que, nos meses que antecederam a disputa entre Hillary Clinton e Donald Trump, nunca se acanhou, nunca escondeu que tinha uma voz e coisas para dizer: uma das mais fundamentais, nos tempos atuais, era que Donald Trump não poderia, nunca, ser presidente do seu país. “Com o cenário dos últimos tempos tornou-se mais difícil amar os EUA, apesar de também ter conhecido muita gente incrível nas minhas tournées pelo país. Mas a verdade é que também nunca me senti norte-americana nem patriótica, ou que pertencia aos EUA. Sempre me senti uma outsider. O meu nome é estranho, não sabem pronunciá-lo, sou fisicamente diferente dos meus colegas. Sempre fui muito consciente de que era diferente e fui percebendo que também há muitas definições do que é ser americano. Agora sei que sou americana e reconheço que aprendi muito com este país. Mas por vezes também odeio a América. Sinto um grande conflito”, confessou a cantora, natural de Nova Iorque, mas filha de uma porto riquenha e de um cubano, durante um telefonema com o i.

De resto, o facto de ser ano de eleições nos EUA foi mais um dos fatores que levou a que “Black Terry Cat” se tenha revelado o mais politizado dos álbuns de Xenia. “Este álbum não deixa de ser a continuação do primeiro – a tendência minimalista continua a existir. Mas sinto que aqui fui mais literal e mais intencional, quando em ‘Magic Trix’, o meu álbum anterior, fui mais figurativa.” Para isto foi fundamental o facto de Xenia Rubinos ter invertido a ordem de trabalho e ter começado por escrever as letras das canções. Tudo porque tinha coisas para dizer. E não eram poucas. E também por isto este “Black Terry Cat” levou mais tempo a ver a luz do dia. Do R&B ao hip hop, do jazz ao funk, este é um álbum de atualidade, fraturante, portanto. Fala de temas de justiça social, mas aborda-os do lado de quem sabe do que fala, por exemplo, “o que é ser de cor nos EUA” ou ter ascendência latina.

Em criança, numa infância passada em Hartford, no Connecticut, descobri a salsa que, na verdade, lhe corria no sangue. Depois chegaram os gloriosos anos 90 e Xenia vivia colada à rádio. “Cresci a ouvir rádio porque não tinha acesso a mais do que isso”, conta. E o que se ouvia na rádio, nesses tais anos 90, eram nomes como Mariah Carey, Missy Elliott e Busta Rhymes – esses foram os seus primeiros ídolos. Mais tarde foi “descobrindo outros universos musicais”, como o jazz, e com ele chegaram John Coltrane, Ella Fitzgerald e Betty Carter. Mais tarde regressou ao hip hop, mas aí já com um olhar mais rico, mais completo. “Percebi que a criatividade que os músicos de hip hop sempre tiveram e que os levava a usar o que tinham à sua volta para se expressarem sempre me tinha inspirado muito.”

É tudo isto que Xenia Rubinos levará ao palco do Sabotage Club. Quem a viu, em 2013, no Lounge, já sabe que esta mulher é um furacão quando chega a hora de cantar. Com um álbum que é tão mais seu é fácil imaginar que será tudo mais. “Gosto mesmo muito de atuar ao vivo e agora ainda mais porque já não sou só eu e o Marco [Buccelli, baterista], mas tenho uma nova banda, somos quatro em palco. Isto trouxe-me uma liberdade maior, posso dançar e isso permite-me transmitir ainda mais energia. E divirto-me muito mais!”.