Letónia. O opositor das melhores memórias para uma geração

A última vez frente aos letões, há 11 anos, foi de contrastes: Pauleta bateu o recorde de golos de Eusébio e Hugo Viana fez o único pelas quinas 

 

Dificilmente podia haver melhor adversário para uma seleção portuguesa que pretende continuar a trilhar os caminhos de novo apuramento para um Mundial. Depois do tropeção inicial na Suíça, com a equipa ainda órfã do capitão e estrela-guia Cristiano Ronaldo, as vitórias sobre as frágeis Andorra e Ilhas Faroé confortaram um pouco a alma – mas precisam de continuidade. É aí que surge a Letónia, um opositor tradicionalmente agradável para as cores nacionais. Vejamos: nos quatro jogos disputados entre as duas seleções, Portugal registou… exato: quatro vitórias. Duas na caminhada para o Euro 96 (1-3 fora e 3-2 em casa) e outras duas dez anos depois, rumo ao Mundial 2006 (0-2 no país báltico e 3-0 cá, no Dragão). 
Foi precisamente esse último encontro, disputado em outubro de 2005, que motivou uma conversa do i com Hugo Viana. E porquê Hugo Viana, que aos 33 anos acaba de anunciar a sua despedida dos relvados? Pois bem: foi precisamente nesse dia 12 de outubro de 2005 que o então jogador do Valência apontou o único golo da sua carreira em 29 jogos por Portugal. E ele lembra-se como se fosse hoje. “Lembro-me muito bem, precisamente por ter sido o único golo que fiz pela seleção. Foi um canto cobrado, se não me engano, pelo Deco [memória perfeita: certíssimo]. Viu que eu estava sozinho à entrada da área e jogou a bola diretamente para mim. Tinha pouca oposição, chutei e fiz um bonito golo (acho eu)”, atira Hugo Viana, que havia entrado apenas seis minutos antes – aos 80, para o lugar do capitão Luís Figo.
 
pauleta suplantou eusébio
O cenário era, na altura, bastante diferente do atual. Esse foi o último jogo da tal fase de apuramento para o Alemanha 2006 e a Seleção nacional, então orientada por Luiz Felipe Scolari, já havia garantido o bilhete rumo ao país que um dia foi dividido por um muro – e não foi essa a particularidade mais negra da sua história…
Adiante: esse jogo teve, portanto, contornos muito diferentes daquele que terá lugar este domingo no Estádio do Algarve. Ainda assim, apesar do clima de festividade e do que o resultado final indica (3-0, com dois golos marcados logo aos 20 e 22 minutos), não terá sido assim tão fácil – pelo menos, tendo em conta o relato de um dos protagonistas principais. “A Letónia nessa altura não era uma seleção muito complicada de defrontar. Mas mesmo assim, apesar do 3-0, lembro-me que não entrámos muito bem no jogo. Chovia muito ao início, daí não estarmos a conseguir um futebol bonito. Mas apesar de já estarmos qualificados, queríamos presentear o nosso público com bom futebol e na segunda parte conseguimos”, salienta Hugo Viana.
O encontro marcou, como já se disse, a estreia – e despedida também – de Hugo Viana a marcar pela Seleção. Antes, porém, outra marca histórica teve lugar: é que os tais dois golos apontados logo aos 20 e 22 minutos pertenceram a Pauleta, que assim igualou – e depois ultrapassou – o recorde de Eusébio, até então goleador máximo de Portugal, com 41 golos. Um dia de festa em toda a linha.
 
mais estreantes a marcar
Desta feita, não há Pauleta nem Hugo Viana, mas há outros nomes com qualidade para levar a Seleção a bom porto. Até porque, como o médio formado no Sporting ressalva, esta geração tem algo de que nunca nenhuma outra se pode orgulhar. “Esta geração é campeã europeia! A partir daí, é muito complicado comparar gerações, pois esta seleção será sempre a melhor, até haver outra geração que a consiga igualar ou superar. O que seria muito bom: era sinal que Portugal teria mais conquistas e nós, como adeptos, teríamos mais momentos inesquecíveis como o deste verão”, reforça Hugo Viana. O ex-internacional luso vê, assim, Portugal “com toda a certeza mais forte que a Letónia” – isto, apesar de prever algumas dificuldades. “Por vezes, os jogos são mais complicados contra este tipo de seleções, já que estas não permitem ao adversário jogar o seu futebol. Mas acho que Portugal terá a humildade e talento para contornar as dificuldades”, confia.
Ora, faltava perguntar a Hugo Viana se acredita na possibilidade de algum dos atuais jogadores da seleção repetir o seu feito e estrear-se a marcar com as cores nacionais neste jogo – lançaram-se na mesa os nomes de Adrien, João Mário, André Gomes ou Gelson Martins: “Espero que desses nomes, um consiga fazer golo neste jogo. Trata-se de jogadores importantes para a seleção e o Gelson está a começar a sua carreira de internacional, mas espero que também tenha, futuramente, a sua importância.” Assim o esperamos todos.