Yes, we can… make America great again

Há 8 anos por esta altura vivia-se um clima de euforia em todo o Mundo. O recém-eleito presidente americano havia sido recebido com honras de estrela pop em Berlim. Apesar da crise económica que tinha rebentado uns meses antes, o Mundo estava convencido que aquele homem de 47 anos, sozinho, iria conseguir resolver todos os…

Há 8 anos por esta altura vivia-se um clima de euforia em todo o Mundo. O recém-eleito presidente americano havia sido recebido com honras de estrela pop em Berlim. Apesar da crise económica que tinha rebentado uns meses antes, o Mundo estava convencido que aquele homem de 47 anos, sozinho, iria conseguir resolver todos os problemas do Mundo. Ainda não tinha tomado posse e Obama já era o melhor presidente americano de todos os tempos, uma espécie de segunda vinda de Jesus Cristo à Terra. Ainda antes de conseguir decorar os códigos de lançamento do arsenal nuclear, já Obama tinha sido condecorado com o prémio Nobel da Paz.

Com expectativas tão elevadas, não era difícil antecipar que viriam a ser defraudadas. O mundo novo prometido por Obama é hoje o mundo do Estado Islâmico, dos refugiados a morrer no Mediterrâneo e dos aviões russos a brincarem às escondidas com os radares europeus. Berlim, o primeiro local de culto de Obama na Europa, é hoje local de paragem para autocarros de refugiados sírios. A tão aguardada América pós-racial de Obama é afinal um país em que negros e forças policiais têm uma desconfiança mútua que, de vez em quando, resulta em mortos de ambos os lados.  Até Guantánamo ainda está por fechar após quase 8 anos de mandato.

Claro que boa parte disto não é responsabilidade de Obama. Obama simplesmente não tinha o poder para fazer aquilo com que se comprometeu ou, pior ainda, aquilo que a imprensa nos quis fazer acreditar que ele seria capaz. Na memória dos que assistiram à eleição de Obama ficará sempre aquela apoiante que, na noite eleitoral, anunciou ao Mundo que não se iria preocupar mais em pagar as contas porque Obama iria resolver todos os seus problemas. A uma ilusão deste tamanho seguiu-se, inevitavelmente, uma desilusão de dimensão semelhante.

Aprendemos alguma coisa com isso? Não, continuamos a querer acreditar em homens providenciais. O entusiasmo de alguma imprensa em torno de Hollande e Tsipras é reflexo disso. Ambos chegaram com as mesmas promessas de soluções fáceis e imediatas, mas nenhum conseguiu mais do que afundar ainda mais os respectivos países. A popularidade de ambos caiu tão rapidamente como tinha ascendido. Mas os eleitorados, alimentados pela imprensa e pelas elites intelectuais, continuam a insistir na ideia do homem providencial, que sozinho pode resolver os problemas de uma nação.

Convencidos de que a ideia de homem providencial ainda era válida, os americanos concluíram então que o que tinha falhado nos EUA era o tipo de homem para o papel. Se Obama – um pessoa cordial, de bom carácter e pertencente a uma minoria étnica – não tinha resultado, os americanos optaram por Donald Trump, o anti-Obama. Em comum com Obama, Donald Trump tinha apenas uma coisa: a ideia de que tinha a receita para resolver os problemas dos EUA. Agora que foi eleito, resta-nos desejar que as más expectativas em relação a Trump se cumpram na mesma proporção que se cumpriram as boas em relação a Obama.

Enquanto não nos convencermos de que não há receitas fáceis, e que problemas complexos requerem tempo e esforço e, muitas vezes, sofrimento para resolver, os eleitorados continuarão a acreditar em homens providenciais. Mas este é um jogo de campo inclinado que favorece populistas com discursos extremados e tendências totalitárias. Mais frequentemente será ganho por pessoas como Trump, Tsipras, Duterte ou Chavez do que por pessoas como Obama. Embora muitos – como prevejo que aconteça com Trump – acabem moderados pelo poder, a perspectiva de jogar roleta russa com líderes de grandes potências não é muito tentadora.

Carlos Guimarães Pinto