Europa. Pontapé de saída para um ano diabólico

Donald Trump não inventou a pólvora. Não criou o populismo, não concebeu uma fórmula inovadora de fazer campanha, nem tão pouco é o produto acabado da teorização política de uma suposta direita antissistema. 

Europa. Pontapé de saída para um ano diabólico

Mas o impacto vitorioso do seu discurso sensacionalista, junto da tão badalada maioria silenciosa, deixa um caminho que os líderes europeus da extrema-direita querem trilhar. O que o Brexit entreabriu, Trump escancarou, como comprovam as comemorações efusivas de Nigel Farage, Marine Le Pen ou Geert Wilders, após a vitória do republicano.

Durante os próximos 12 meses (para começar), a Europa provará da mesma tentação dos norte-americanos e dos britânicos que viraram as costas à UE, com a realização de eleições um pouco por todo o continente. O pontapé de saída será dado na Áustria, no início de dezembro, com a repetição da segunda volta das presidenciais e com Norbert Hofer, do Partido da Liberdade, a perfilar-se para a vitória. Em março de 2017 será a vez do xenófobo Wilders tentar intrometer-se nas legislativas holandesas. Abril conhecerá uma das mais expectantes decisões políticas dos últimos tempos, com a primeira volta das presidenciais de França, nas quais Marine Le Pen chegará em força, apoiada numa estratégia semelhante à de Trump, de aceno à classe operária branca francesa. Finalmente, em agosto, a Alemanha escolherá uma nova assembleia, envolta num clima crescente de ressentimento contra a política de refugiados de Merkel.

Pelo meio ainda poderá haver a consumação do Brexit, o reforço da estratégia anti-imigração de Orbán, na Hungria e a consagração do autoritarismo dos vizinhos Putin e Erdogan. Respira, Europa. A.L.