Topo. Isto já não é (só) um terraço

Depois do Topo Martim Moniz e do Topo Chiado, a marca que está a tomar conta dos terraços de Lisboa transforma-se em clube e chega ao Cais do Sodré. Versão red light que já dispensa um topo para ser um

Diz o dicionário sobre “topo” que será a parte mais alta, o mesmo que cimo ou cume; remate, ponta, extremidade; grau mais elevado que se pode alcançar, e assim começou o Topo, em julho de 2015, no cimo do Centro Comercial do Martim Moniz, na Mouraria. O mesmo Topo que ano e meio depois vem provar que nem sempre será preciso um topo para se estar num Topo. Trocadilhos fora, o que isto dá é o Topo Clube, um dos mais recentes espaços do Cais do Sodré, que aproveita o conceito dos dois espaços que a marca já tem em Lisboa, esses sim, topos, no Martim Moniz e no Chiado, e o adapta ao Cais do Sodré, num clube de paredes pretas e néones vermelhos que continua a ter vista, sim, mas para o antigo red light lisboeta.

Sobre isso de fazer topos sem terraços, omeletes sem ovos do planeamento das cidades contemporâneas, ninguém mais indicado do que José Filipe Rebelo Pinto. Foi ele o responsável pelo projeto de transformação da Praça do Martim Moniz em Mercado de Fusão, no verão de 2012, depois de vencer o concurso lançado pela Câmara de Lisboa, e foi ele que por essa altura teve a ideia de subir ao último andar do Centro Comercial do Martim Moniz, todo armazém com caixas de cartão a tapar a vista – aquela vista – que faz do Topo Martim Moniz, que aí abriu três anos depois e agora está em fase de expansão para um restaurante no mesmo piso, um dos terraços mais apetecíveis para um fim de tarde em Lisboa.

Mas vamos ao Cais do Sodré, quinta-feira será a noite, início de noite daquele equilíbrio perfeito para descobrir este novo clube que abriu no Cais do Sodré – por tempo limitado, é certo, vamos ver até quando.

Preto, um lustre e um néon vermelho a lembrar-nos onde estamos, que isto é mais um Topo. O que quer dizer sobretudo que é este o sítio certo para um daqueles Summer of 69 ou um Melodream que conhecemos no Martim Moniz, mais rum, mais gin, há cocktails para todos os gostos, mas também para comer, e até à hora que for preciso – detalhe que se revelará provavelmente mais importante do que qualquer outro, sabendo nós onde estamos e que qualquer alternativa a um pão-com-chouriço ao frio depois da meia-noite será sempre mais do que bem-vinda. E que aqui também se dança não seria preciso mencionar, que isto é um clube, já diz o nome.

E o topo?

Topo entendido como terraço não há, o mais alto a que chega este Topo Clube é mesmo este primeiro andar convertido em espaço de noite com vista para o centro do bairro mais basfond da noite de Lisboa. “Ainda pensámos pintar o castelo numa das paredes”, brinca José Filipe Rebelo Pinto, que com o Topo Clube regressa ao bairro que no ido ano de 2004 começou a ajudar a trazer de volta para a noite lisboeta, com as festas Chocolate Flavours, no Jamaica, ou os afters do Europa, e onde agora regressa com o seu novo projeto, o Topo, que começa a espalhar-se por Lisboa e que provavelmente não se ficará só por este terceiro espaço depois do Topo Martim Moniz e do Topo Chiado, inaugurado este verão nos Terraços do Carmo, e inspirado no primeiro espaço – na oferta e na vista – mas adaptado a esse novo bairro. “Não faz sentido pegar numa fórmula feita para o Martim Moniz e replicá-la por tudo o que é lugar, temos de perceber a identidade de cada espaço, o que é cada espaço. O Topo tem uma identidade mas os espaços também têm a sua”, diz sobre o interesse da marca na expansão para várias áreas de Lisboa.

Marca que, a propósito, começou num desses acasos da vida, com uma visita a um quinto feito armazém de produtos chineses, como de resto continua todo o edifício por onde se passa para chegar ao Topo Martim Moniz, elevadores e máquinas de diversão para crianças dos anos 80. Na verdade o que José Filipe queria quando se lembrou do Martim Moniz era fazer uma pausa na carreira, tipo voluntariado em África ou na Ásia. Depois lembrou-se da Ásia que há em Lisboa e lançou-se para o projeto do Mercado de Fusão. Uma coisa leva a outra e depressa se pôde subir ao Topo, em jeito de regresso ao serviço ao balcão, inspirado em espaços da Lisboa antiga como o Galeto, no Saldanha, mas ao mesmo tempo mais um terraço na altura em que estes começavam a ficar na moda. “A ideia foi lançar um restaurante bar que pudesse estar em qualquer capital mundial como Londres, Tóquio, Nova Iorque”, tudo isso num terraço, a romper com essa ideia de que eles eram propriedade de hotéis, movimento que ganhou sentido nos últimos anos, numa cidade que sempre se fez de miradouros.

“Quisemos uma coisa mais contemporânea, mais moderna, com uma aposta forte na vertente musical e na vertente artística também, com exposições, e a ideia era criar uma linha de orientação estratégica para a zona do Martim Moniz”, diz. “Obviamente que sabíamos que poderia crescer, não pensámos nisso imediatamente, o crescimento veio naturalmente.” Numa praça difícil, é certo, o Martim Moniz nunca foi fácil e foram vários os projetos falhados para dar um sentido à praça aberta para ligar a Almirante Reis ao Rossio. “As pessoas que vivem ali à volta não têm poder económico para ir almoçar à praça, também não há ali uma zona de escritórios, é difícil. Mas o que é facto é que hoje percebes que começa a haver interesse imobiliário naquela zona, porque cresceu.” E o que representará isso para as comunidades para as quais José Filipe diz ter pensado no projeto do Mercado de Fusão, em 2012? “A transformação é inevitável, é um processo natural.”