Vodafone Mexefest. Começar a noite com o poder das palavras

Chegar à zona da Baixa de Lisboa nunca é tarefa fácil. Ainda mais nos dias que correm, com taipais, baias protetores, estradas cortadas e luzes de natal à mistura. Mas nem por um instante desistir: hoje é noite de Mexefest. Encosta-se o carro e toca a andar a pé que vai ser assim: acima e…

Vodafone Mexefest. Começar a noite com o poder das palavras

Depois de parar no Coliseu, decidimos subir até ao renovado Capitólio, onde o nosso primeiro encontro da noite – que já começou a meio da tarde com Valas, Lula Pena e Celeste/Mariposa – vai ser com Nerve e Mike El Nite. Dois artistas das palavras, cada um ao seu estilo. Nerve é o primeiro a apresentar-se para uma plateia recheada de outros nomes do universo do hip hop: Valete e Sensei D são dois dos mais reconhecidos entre a multidão que chega aos poucos. Nerve (que no ano passado já cá tinha estado)  que à segunda faixa chama Blasph para vir até ao palco, vem apenas munido de uma máquina de largar beats. E conta histórias – pensamentos, reflexões e revoltas interiores, densas e poéticas, de voz grave e impositiva que pode ser ouvida no brilhante “Trabalho & Conhaque” ou “A Vida Não Presta & Ninguém Merece a Tua Confiança”. Entra Capicua para cantar com Nerve “Judas e Dalilas”, uma parceria do primeiro álbum da rapper do Porto.

Mike El Nite juntar-se-ia à festa de seguida. Mas já não teríamos tempo para ouvir o auto-denominado “Justiceiro”, outro repetente do Mexefest, a mandar o seu real sarcasmo nem sequer a nova canção que tem com Nerve, precisamente. A beleza do Mexefest é também o seu defeito: tanta coisa bonita e interessante para ver e um corpo que teima em não se dividir.

É hora de espreitar Jorge Palma. Foi um concerto de última hora, hoje anunciado, que aconteceu no Largo de São Domingos. tentamos um shuttle, para nos levar mais rapido, mas está tudo cheio. Já nem dá tempo de espreitar Bruno Pernadas. Ao menos passamos de dois mestres da palavra para um dos doutorados em escrita de canções.

Jorge Palma está a arrancar com as  comemorações dos 25 anos de “Só”, álbum editado em 1991. Quando chegamos ao largo ouvimos a guitarra e “epá deixa-me abrir contigo”. Está Palma, de chapéu, sozinho com as suas seis cordas de aço, a cantar para uma plateia que bebe ginjinha e vai até à porta da Igreja de São Domingos. “É uma rapidinha”, brinca enquanto afina a guitarra entre canções. Tempo para “A Gente Vai Continuar” e uma homenagem ao Nobel da Literatura Bob Dylan (“Don’t Think Twice It’s Alright”).

Enquanto houver estrada, nesta noite, vamos continuar. Há tanto mais para ver.

João Girão

 

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