Pedofilia em Inglaterra sai da sombra

Três antigos jogadores garantem ter sofrido abusos sexuais enquanto adolescentes nos anos 70 e 80, mas o flagelo está longe de se cingir ao futebol e a terras de sua majestade.

Está a crescer o número de queixas de antigos jogadores ingleses que dizem ter sido alvo de abusos sexuais no início da carreira, enquanto crianças ou adolescentes. A revelação partiu de Gordon Taylor, presidente da Associação de Jogadores da Federação inglesa, depois de Andy Woodward, atualmente com 43 anos – e curiosamente polícia de profissão –, ter saído do anonimato para falar do seu caso pessoal.

Em entrevista ao The Guardian, o antigo defesa acusou Barry Bennell de abusos sexuais nos anos oitenta, quando jogava no Crewe Alexandra. Bennell era, à data, treinador nos escalões jovens daquele clube e, entretanto, já esteve várias vezes preso por crimes de pedofilia – como está agora, de resto, a cumprir dois anos de cadeia por outro crime de abuso sexual de um menor nos anos 80.

Depois de Woodward, outro antigo jogador do Crewe, Steve Walters, confirmou também ter sido alvo de abusos por Bennell. Mas o flagelo não se limitou a este treinador e ao Crewe: Paul Stewart, antiga estrela do Tottenham e do Liverpool (chegou a ser internacional A inglês), também assumiu ter sofrido abusos sexuais durante a sua formação, nos anos 70. «É uma chamada de atenção para toda a gente no futebol em relação às obrigações que temos diante dos mais jovens. É a altura de apertarmos a rede e mostrarmos que aprendemos com isto», referiu Gordon Taylor.

Brasil e EUA também sofrem

O fenómeno, todavia, está longe de se cingir a Inglaterra. Em 2007, foi noticiado um caso de suspeitas de pedofilia nas camadas jovens do Corinthians, um dos maiores clubes do Brasil. Evanir Jesus de Moraes, conhecido por Wando, era na altura diretor do departamento de futebol amador, tendo sido desde logo afastado do cargo quando o escândalo rebentou – até hoje, continua a jurar inocência. Nelsinho Batista, técnico com mais de 50 anos de experiência no futebol, garantiu na altura serem «corriqueiros» os abusos sexuais nas categorias de base do futebol brasileiro.

Em 2011, tocou aos Estados Unidos. Joe Paterno, um dos mais reputados treinadores de futebol americano (entretanto já falecido), após 46 anos a dirigir a equipa de Penn State, foi despedido em consequência de um caso de abuso sexual cometido pelo adjunto Jerry Sandusky. Coordenador defensivo dos Penn State Nittany Lions há 23 anos, Sandusky foi acusado de 48 crimes de abuso sexual de menores cometidos ao longo de quase 20 anos. O caso acabou com uma multa de 60 milhões de dólares à Penn State, a perda dos títulos das últimas 14 épocas e a estátua de um treinador mítico (Paterno) deitada abaixo. E Sandusky, claro, considerado culpado de 45 crimes – e condenado a uma pena de prisão entre 30 a 60 anos.