Cuidados primários devem estar disponíveis 24 horas por dia

O reforço dos cuidados primários e ganhos de eficiência nos hospitais são cruciais, diz OCDE.

A necessidade de reforçar o acesso aos cuidados primários de saúde, como porta de entrada nos sistemas de saúde e forma de evitar idas desnecessárias às urgências, é um dos alertas da OCDE, que avisa que no futuro a pressão sobre os serviços de saúde será cada vez maior. Uma das áreas em que projetam um maior aumento de casos é nas demências: em Portugal, a incidência deverá passar de 17,9 casos por mil habitantes para 28 casos em 2035. Um dos apelos da organização é para que os cuidados primários estejam acessíveis 24 horas por dia e sete dias por semana, o que ainda não acontece em Portugal.

A OCDE dá como exemplo os “huisartsenpost” criados na Holanda: uma espécie de linha de saúde 24, em que é suposto a população procurar conselhos médicos antes de uma deslocação às urgências caso o centro de saúde esteja fechado. Mas Amesterdão avançou com uma terceira opção, em que há sempre médicos e enfermeiros disponíveis em centros de atendimento permanentes, que podem ir a casa do doente ou pedir-lhe que se desloquem a estes postos de saúde.

Portugal também surge como exemplo de boas práticas, mas em matéria de investimento em informação, que deve servir de base a boas políticas. A OCDE destaca o facto de o país monitorizar indicadores como o número de doentes hipertensos seguidos nos cuidados primários ou utentes a tomar antidepressivos.

A análise conjunta da OCDE  e da Comissão Europeia, que recorreu a base de dados do Eurostat e a inquéritos internacionais mas também a dados cedidos pelos países, sugere que os portugueses estão em geral satisfeitos com o atendimento nos cuidados primários: 89,6% consideram que as consultas com os médicos habituais têm a duração suficiente e a maioria concorda também que os médicos dão explicações fáceis de entender.

Ainda assim, os portugueses parecem ter menos consultas por ano do que os congéneres europeus. Em 2014, houve 4,1 consultas por habitante em Portugal, quando a conta na Europa dá, em média, sete. Portugal surge também como um dos países onde há menos aparelhos de ressonância magnética nos hospitais. Outra área em que parece haver menor acesso é nas cirurgias para colocação de próteses da anca. Em 2014 registaram-se em Portugal 87,5 operações por cada 100 mil habitantes quando a média na UE foi de 188 intervenções, mais do dobro.