Trabalhar por turnos provoca perda de memória

Em Portugal, no terceiro trimestre deste ano, 740 mil pessoas trabalhavam por turnos. Destes, quase 500 mil cumpriam o turno da noite

Enfermeiros, polícias, taxistas, médicos, operários… A lista de profissões que, tipicamente, trabalham com horários rotativos é extensa. Assim como os problemas associados a esta prática. 

Um estudo publicado na revista norte-americana “Esquire”, levado a cabo por uma equipa de investigadores da Universidade de Swansea (País de Gales), concluiu que trabalhar por turnos rotativos provoca danos na função cerebral. 
O estudo, publicado em 2014, demorou 15 anos a estar concluído. Durante esse período, os investigadores observaram três mil pessoas que trabalhavam por turnos rotativos, que compararam com outros profissionais que tinham horários ditos regulares. 

Os trabalhadores por turnos apresentaram problemas de processamento rápido de informação, mais perda de memória e uma deterioração geral das capacidades cognitivas comparativamente às pessoas com horários fixos. Segundo os cientistas da Universidade de Swansea, estes horários põe em causa não só a saúde dos trabalhadores por turnos mas também de todas as pessoas com quem estes lidam.

Há, no entanto, esperança: segundo os investigadores, a situação pode ser revertida caso os trabalhadores deixem os turnos. No entanto, alertam, podem ser necessários cinco anos para recuperar algumas capacidades cognitivas. 

mulheres Este não foi o primeiro nem o último estudo a demonstrar os malefícios do trabalho por turnos. 
No ano passado, uma investigação publicada no “American Journal of Preventive Medicine” concluiu que o trabalho por turnos noturnos reduz a esperança média de vida e aumenta as probabilidades de sofrer de um acidente cardiovascular. Segundo os cientistas – que entre 1988 e 2010 monitorizaram mais de 75 mil enfermeiras –, basta que as mulheres trabalhem durante cinco anos neste regime para verem a sua esperança média de vida diminuída. 
E, caso o façam durante 15 anos ou mais, aumentam as hipóteses de morrerem de cancro do pulmão.

aprendizagem Outros estudos sugerem que a falta de rotina do sono, associada a estes horários menos usuais, está intimamente ligada não só a problemas cognitivos como também a depressões.
Em junho deste ano, a universidade de Uppsala, na Suécia, demonstrou que o trabalho rotativo afeta a concentração e a capacidade de aprendizagem.

A pesquisa que incidiu em 7000 indivíduos foi publicada na revista “Neurobiology of Aging” . “Os nossos resultados indicam que o trabalho por turnos está ligado a piores desempenhos num teste que é frequentemente utilizado para avaliar problemas cognitivos”, explicou Christian Benedict, professor no Departamento de Neurociência na universidade de Uppsala. 

quase 500 mil no turno da noite

Os estudos são preocupantes mas isso não significa que os turno da noite não sejam uma realidade para uma fatia significativa da população.

Segundo dados do INE enviados ao i, há 740 mil portugueses que trabalha por turnos no país. E há 492 100 trabalhadores que trabalham no turno da noite. 

A maioria destas pessoas trabalha no setor dos serviços (363 400), seguindo-se o setor da indústria, construção, energia e água (11 7 200 trabalhadores) e finalmente o da agricultura, produção animal, caça flores e pesca (11 500).
Os dados são referentes ao terceiro trimestre de 2016. Segundo as contas do INE, a maioria das portugueses com este tipo de horário laboral noturno são homens: 347 200, contra 144 800 mil mulheres. 

Segundo o Inquérito ao Emprego do INE, há um total de 4 661 500 mil pessoas empregadas no país.