Fidel Castro. Não se matam as ideias

Filho de um imigrante galego, estudou nos jesuítas. Desde muito novo tomou o herói da independência cubana, José Martí, como exemplo. Envolveu-se em ações armadas na América Latina contra a dominação dos EUA. Safou-se por milagre a várias mortes anunciadas.

Fidel Castro acreditava no papel dos homens para fazer a história. Gente determinada podia mudar as “condições objetivas de uma sociedade”, como dizem os marxistas. Confessou ao seu entrevistador Ignacio Ramonet que se via com essa capacidade providencial, com esse grão de sorte que faz os grandes da história. Afinal sobreviveu a 638 tentativas de atentado, organizados pela maior potência mundial. Mesmo nos momentos mais negros, como no ataque ao quartel da Moncada, safou-se por milagre. Quando foi capturado pelas tropas, depois da ação falhada de tomada do quartel, o seu captor, o tenente Serrias impediu que os soldados o matassem: “não disparem, as ideias não se matam”, disse ele. E Fidel escapou a ser assassinado, como foram 70 dos seus companheiros.

Fidel Alejandro Castro Ruz nasceu às 2 horas da manhã do dia 13 de agosto de 1926 na pequena povoação de Birán, perto de Holguín, na zona oriental da ilha. Foi o terceiro dos sete filhos de Ángel Castro, um fazendeiro chegado da Galiza para combater na Guerra da Independência, em que morreram mais de 300 mil cubanos, e o primeiro tido com a sua segunda mulher, Luna Ruz.

Estudou nos jesuítas. Segundo um dos seus colegas, Juan Ravira, que vive exilado em Miami, citado pelo jornalista norte-americano Tad Szulc, autor de “Fidel, Uma Biografia Crítica”, “Fidel entusiasmava toda a gente quando havia um jogo de básquete ou um torneio de atletismo, porque ele corria muito depressa e as suas qualidades desportivas eram fantásticas. Era excelente em todos os desportos também porque beneficiava da simpatia geral. Em matéria de estudos não brilhava tanto mas, quando chegava o período de exames, podia trabalhar muitíssimo. Os estudantes internos levantavam-se muito cedo, às quatro horas da manhã, e ele tinha uma memória prodigiosa. Era capaz de reproduzir por escrito tudo o que tinha lido, palavra por palavra, e parecia que tinha copiado, mas ele tinha gravado tudo na sua cabeça. Obtinha grande notas devido a esta memória prodigiosa”.

Em 1945 começou a estudar Direito na Universidade de Havana, onde o ambiente explosivo e revolucionário o levaram a incorporar-se em rocambolescas aventuras revolucionárias, como a tentativa de expedição armada para derrubar o ditador dominicano Rafael Leónidas Trujillo, em 1947. Um ano depois, já como dirigente estudantil e a participar numa reunião em Bogotá, envolveu-se na revolta do Bogotazo – a revolta popular contra os conservadores, depois do assassinato do líder liberal colombiano Jorge Eliécer Gaitán -, que foi a sua primeira experiência de insurreição popular. Foi também em 1948 que se casou com uma estudante de Filosofia de famílias endinheiradas, Mirta Díaz-Balart, com quem teve o seu primeiro filho, Fidelito.

Depois de se licenciar começou a advogar em 1950 e entrou na política pelo Partido Ortodoxo, de Eduardo Chibás, um político semelhante ao colombiano Gaitán. Chibás era um político muito popular que denunciava a corrupção governamental, provável vencedor das presidenciais marcadas para 52. Suicidou-se em direto no seu programa de rádio semanal, por não conseguir provar umas acusações que tinha feito ao governo. Fidel foi escolhido pelos ortodoxos para se candidatar ao Congresso nas eleições de junho de 1952, que nunca chegaram a realizar-se. A 10 de março desse ano, o ex-sargento Fulgencio Batista encabeçou um golpe apoiado por Washington.

Depois do golpe, Fidel rompeu com os ortodoxos, por considerar que quase não se tinham oposto ao estabelecimento da ditadura. Para derrubar o novo governo, Castro tentou uma ação armada que devia servir de fagulha a uma insurreição popular. A 26 de julho de 1953, 135 elementos comandados por Fidel Castro tentaram tomar o quartel de Moncada, em Santiago de Cuba. A operação fracassou: 67 dos membros do comando foram mortos, a maioria barbaramente torturados e assassinados depois dos combates. Os irmãos Castro foram presos, mas uma campanha internacional impediu que tivessem sofrido a mesma sorte que a maior parte dos revoltosos. No julgamento que se seguiu, Fidel fez a sua célebre defesa, conhecida por “A História me absolverá”, em que traça os principais traços do que deve ser um governo revolucionário e defende a restauração da democracia e da Constituição de 1940. As suas últimas palavras no julgamento serão as seguintes: “Quanto a mim, sei que a prisão será dura como nunca foi para ninguém, cheia de ameaças, de vis e cobardes provocações; mas nunca a temo, como não temo a fúria do tirano miserável que arrancou a vida a 70 irmãos meus. Condenem-me, não importa, a história me absolverá.”