Rangel critica declarações de Costa sobre a dívida

António Costa considerou ontem em entrevista à RTP que o tema de renegociação da dívida nunca poderá ser tratado ao nível europeu antes das eleições alemãs, atirando para mais tarde uma discussão que BE e PCP consideram urgente para conseguir o investimento público de que o país precisa e alavancar o crescimento.

Mas Paulo Rangel acha que o primeiro-ministro português devia ter mais cuidado ao falar de uma questão que é tão sensível para os níveis de confiança dos investidores.

"Devia ser mais categórico a afastar [a possibilidade da renegociação da dívida pública portuguesa]", defende o eurodeputado português, que acha mesmo que a renegociação da dívida "não vai acontecer nesses termos".

De resto, Rangel acredita que as palavras de Costa eram essencialmente para consumo de bloquistas e comunistas e que o primeiro-ministro "estava a falar para os seus parceiros" mais do que a apontar um calendário que faça sentido em termos europeus.

"Ele não está a falar como um político europeu, mas está a falar lá na sua cozinha doméstica que ele tem de organizar todos os dias", ironiza Paulo Rangel, desvalorizando a importância da declaração de Costa que vê como uma resposta ao Congresso do PCP do fim de semana passado que pôs pressão sobre o tema. "

"Ele tinha de dizer qualquer coisa. Porque como político europeu sabe que as coisas não se põem nesses termos", comenta o eurodeputado.

Paulo Rangel concorda, porém, com a ideia de que num ano marcado pelas eleições – Alemanha, França e Holanda vão a votos em 2017 – "a disponibilidade para fazer concessões é menor".

Isto, apesar de achar que há cada vez mais na Europa a ideia de que é essencial encontrar soluções para a dívida e de até ver na Comissão Juncker "uma atitude diferente " e o reconhecimento da importância do investimento para o crescimento.

"Não temos de pensar que não temos de resolver os problemas das dívidas ", afirma Rangel, admitindo que uma dívida elevada "é sempre um peso sobre o crescimento". Rangel defende até ser importante resolver o  desequilibro da balança comercial da Alemanha que infringe as regras europeias e que até hoje nunca foi alvo de sanções ou pressões pelas autoridades europeias apesar de poder ser um factor importante do ponto de vista económico para toda a zona euro.

"Não se compreende que a Comissão Europeia, que está sempre tão preocupada com o cumprimento das regras, não obrigue a Alemanha a fazer essa correção", afirma o social-democrata, que considera ser importante que os países mostrem cumprir as regras do défice e da dívida para darem sinais de confiança aos investidores, mas acha tão ou mais urgente resolver os problemas do sistema bancário que afetam a zona euro.