Pedro Dias recusa formalmente fazer teste de ADN

Falta de colaboração leva a que seja pedido a um juiz ordem para sujeição de Pedro Dias a recolha de ADN – se aí oferecer resistência poderá ter de ser amarrado. Testemunha-chave teve um AVC  

Pedro Dias, suspeito dos homicídios de Aguiar da Beira e de ferir com gravidade outras três pessoas, recusou ontem colaborar na realização de um teste de ADN que é fundamental para a conclusão da investigação. O teste está previsto na lei e é obrigatório, mas a recusa do arguido obriga a Polícia Judiciária (PJ) e o Ministério Público (MP) a pedirem formalmente a um juiz de instrução a devida autorização.

O teste é feito a partir de uma amostra de saliva ou sangue recolhida ao arguido. Neste caso, os investigadores pretendem fazer uma comparação com vestígios biológicos encontrados nos cenários dos crimes e nos locais onde se suspeita que Pedro Dias conseguiu refugiar-se e escapar às autoridades durante mais de um mês. 

Quando se entregou à PJ, em meados de novembro, os agentes interpelaram verbalmente Pedro Dias para que fizesse de imediato o teste, o que ele recusou. A recusa apenas teve como efeito atrasar a investigação, obrigando a PJ e o MP a fazerem uma notificação formal – à qual Pedro Dias respondeu ontem negativamente, através da sua advogada, Mónica Quintela.

Segundo a lei, só após a recusa formal do arguido é que a questão é então levada a um juiz, que irá ordenar a perícia. Fonte judicial contactada pelo i considera que a recusa de Pedro Dias em fornecer amostras para o teste de ADN, pela segunda vez, é contraditória com a atitude que assumiu quando se entregou há um mês perante as câmaras da RTP: “É uma recusa que não se compreende para quem, naquela patética entrevista que deu, alegou inocência. Ele será obrigado a permitir a recolha por isso não se entende qual é o objetivo, a não ser criar dificuldades à própria investigação. Após decisão do juiz, e se mostrar resistência física, terá de ser amarrado para se proceder à recolha, o que é altamente degradante. Parece que regressámos à idade média”.

 Na entrevista à RTP, Pedro Dias disse sentir-se “um homem inocente com vontade de defender a honra”. E acrescentou: “As coisas vão ser esclarecidas. Tenho provas e tenho a convicção para demonstrar que há equívocos”.

Apesar da recusa em colaborar, a investigação tem decorrido o seu percurso normal com a realização de outras perícias que não dependem do ADN do suspeito. Uma das análises que estão em curso é a perícia aos objetos que Pedro Dias usou, para se perceber se têm vestígios das vítimas – dada a natureza dos crimes, o mais provável é que existam vestígios do ADN das vítimas na roupa do suspeito e nos carros.

Refém sofreu AVC Nos últimos dias, a mulher que foi sequestrada e violentamente agredida por Pedro Dias numa casa desabitada no lugar da Portela – freguesia de Moldes, concelho de Arouca -, onde o arguido esteve refugiado durante a fuga, sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC). A vítima já tinha testemunhado perante o MP e está atualmente hospitalizada em estado crítico.

Fonte da investigação revelou ao i que o “coágulo resulta das agressões que sofreu”, uma vez que “foi suturada em vários pontos da cabeça”. O suspeito terá batido com a cabeça da mulher várias vezes contra a parede e contra o chão.

A vítima de 56 anos, que é do Porto e tinha ido passar o fim semana a uma casa que tem naquele local, surpreendeu Pedro Dias. Este manteve-a como refém durante mais de uma hora – bem como a um vizinho, jardineiro, que foi em seu socorro depois de ouvir gritos.

Após as agressões ficou gravemente ferida na cabeça e nas mãos. Pedro Dias ainda calou os seus gritos metendo-lhe uma batata na boca e amarrando-a, juntamente com o vizinho. Enquanto isso, ameaçava-os: “Mato? não mato…” Acabou por abandonar as vítimas e fugir no carro do jardineiro, uma Opel Astra branca.