França. Ex-ministro de Hollande condenado por evasão fiscal

Jérôme Cahuzac era a cara por um sistema tributário honesto. Foi a grande polémica do atual presidente

O ex-ministro francês que esteve como responsável por um programa de reforma do sistema fiscal e caça a fortunas escondidas no estrangeiro foi ontem condenado a três anos de prisão por ele próprio ter fugido ao fisco e escondido dinheiro em contas offshore. Jérôme Cahuzac, escolhido por François Hollande para transformar o sistema tributário francês e torná-lo mais transparente e honesto, foi condenado em Paris juntamente com a ex-mulher, Patricia Menard, sentenciada a dois anos, também por fraude.

A sentença é o fim do caso mais polémico da presidência de François Hollande – que anunciou esta semana que não se vai recandidatar às eleições do próximo ano. O líder francês fez campanha prometendo tornar-se o “presidente normal”, mas acabou por ver-se ligado à elite financeira francesa poucos meses depois de tomar posse, quando foi revelada uma investigação que indicava que o homem que acabara de nomear como ministro do Orçamento tinha escondido centenas de milhares de euros na Suíça anos antes.

Jérôme Cahuzac passou quatro meses a negar a investigação publicada pelo site Mediapart, um respeitado projeto de jornalismo de investigação em França, segundo o qual o então ministro francês mantivera durante vários anos uma conta no banco suíço UBS, que chegou a ter cerca de 600 mil euros. Cahuzac encerrou-a em 2010 quando se tornou chefe da comissão parlamentar das finanças, transferindo em seguida o dinheiro para a Singapura. O dinheiro provinha das clínicas de transplante capilar que detinha com a sua mulher de então, Patricia Menard, frequentadas por algumas das mais conhecidas celebridades francesas.

Antes de se demitir do governo de Hollande, Cahuzac apareceu várias vezes em programas televisivos negando as alegações de evasão fiscal e fraude, declarando-se inocente também no parlamento. Confessou que estava culpado em abril de 2013, dizendo que tinha ficado preso de “uma espiral de mentiras”, como escreve o “Guardian”. “Peço ao presidente, ao primeiro-ministro e aos meus antigos colegas de governo que me perdoem pelo dano que lhes causei”, anunciou então, declarando-se “devastado por remorsos”.

Ao longo do julgamento, realizado este outono, Cahuzac disse que quase havia cometido suicídio antes de confessar publicamente os crimes. O julgamento do antigo casal revelou que os dois chegaram a ter 3,5 milhões de euros em contas no estrangeiro, incluindo mais de 2,5 milhões de euros na Ilha de Man, no Reino Unido, e algumas contas em nome da mãe de Cahuzac. O banco suíço Reyl foi também multado em 1,8 milhões de euros por ter escondido a conta do ex-ministro.