Guterres lança o apelo: “Chegou a hora de mudar”

Português prestou juramento como secretário-geral da ONU e discursou perante a assembleia em Nova Iorque

António Guterres prestou hoje juramento na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, e discursou perante o olhar atento de Marcelo Rebelo de Sousa e de António Costa, inaugurando assim um mandato de 5 anos – que começará formalmente no primeiro dia de 2017 – como secretário-geral daquela instituição criada em 1945. 

Nas palavras dirigidas aos representantes dos 193 países que compõem a organização, o antigo primeiro-ministro afiançou que, com a sua liderança, chega a “hora de mudar”. Numa mensagem claramente alicerçada na necessidade de os líderes mundiais porem a mão na consciência, Guterres falou numa cada vez maior e mais óbvia “incapacidade” da comunidade internacional e da própria ONU, em impedir e prevenir os conflitos e a guerra, num mundo cada vez mais “complexo” e “fragmentado”. “Hoje, a paz não existe”, admitiu o português.

Neste sentido, o sucessor do sul-coreano Ban Ki-moon relembrou que as Nações Unidas “não podem fazer tudo sozinhas”, pelo que é necessário “reconstruir a relação” entre a sociedade civil e os líderes políticos, que devem “demonstrar que se preocupam” realmente, assumindo mais responsabilidades. 

O foco que Guterres ofereceu, durante o discurso, à necessidade do aumento da capacidade da ONU em matéria de prevenção de conflitos, foi notório. O português deu os exemplos do Sudão, da Síria e do conflito israelo-palestiniano como casos que espelham essa imprescindibilidade e, numa altura em que se fazem tantas comparações com os tempos da rivalidade entre soviéticos e norte-americanos, durante a segunda metade do século passado, fruto do aumento da tensão entre a Rússia e o Ocidente, Guterres fez questão de referir que “o fim da Guerra Fria não foi o fim da história”.

O antigo primeiro-ministro prometeu igualmente “reformas profundas” na administração e gestão da ONU, nomeadamente nos procedimentos, descritos por Guterres como “excessivamente burocráticos”. O próximo secretário-geral da organização defendeu que a atuação das Nações Unidas deve estar direcionada para os “resultados e não para os processos”, pelo que apelou ao apoio dos Estados-membros na liderança de uma reforma de “simplificação de procedimentos”.

As mulheres, os jovens, as minorias e as vítimas da guerra e dos crimes de abusos sexuais foram alguns dos grupos, referidos por Guterres, cuja participação política e cívica deve ser tida como essencial para a construção do futuro. A estes grupos, disse o português, deve ser agregada a importância central dos Acordos de Paris, sobre as alterações climatéricas, para que o “mundo a ser herdado pelas crianças” se baseie nos valores da Carta das Nações Unidas – sob a qual o ex-ministro pousou a sua mão esquerda, antes do discurso, e jurou perante a assembleia, “exercer com toda a lealdade, em consciência, todas as funções (…) confiadas enquanto secretário-geral da ONU”.