Lisboa rendida aos Tribal Baroque [VÍDEO

A mistura do lado negro da voz grave de Thoth com a voz angelical de Lila’Angelique faz muitos transeuntes atrasarem o seu regresso a casa para assistir às performances dos Tribal Baroque. Este contraste entre os artistas é a sua imagem de marca: ele é um contratenor e tem uma postura agressiva, ela é um…

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«as nossas músicas e os nossos fatos revelam o que somos como pessoas» revela o músico de 58 anos. e explica: «eu sou negro, um monstro atrás dela», enquanto lila «é uma dama e por isso usa roupas leves e cor-de-rosa». lila tem apenas 24 anos – apesar da diferença de idades, estão em plena sintonia e de certa forma complementam-se.

há até quem saia do trabalho e ali vá todos os dias, só para os ver. é o caso de jorge, um economista que trabalha no ministério da economia, que há 15 dias que chega ao local religiosamente às 19 horas, porque «o espectáculo é arrepiante». e não é o único: o economista afirma ter por companhia uma funcionária da câmara de loures que também não perde uma performance do duo.

os artistas gostam deste público fiel e cumprimentam pelo nome todas as pessoas que repetem a visita. lila, em especial, gosta de abraçar e transmitir carinho às pessoas que a abordam porque, como diz, são «dadores». por isso, além do tradicional ‘obrigado’, lila já sabe dizer ‘beijinho’ e ‘abraço’ na língua portuguesa.

«dar» é o sentimento que os move, dizem, e por isso escolheram portugal como destino: «o mundo está muito difícil, as pessoas estão assustadas, por isso queremos dar. o fado preparou os portugueses para o que nós fazemos. o fado é paixão, vem do coração, e a nossa música também vem do coração», explica lila.

em portugal, já actuaram na cozinha do palácio da pena. mas são artistas de rua e querem continuar assim: apesar de receberam muitos convites para trabalhar em salas de espectáculos, dizem que só a rua lhes dá liberdade criativa.

mas não são apenas os portugueses que não resistem a espreitar: há turistas também, novos e velhos, na plateia dos tribal baroque. thomas, um turista brasileiro, foi atraído pelos sons durante um passeio pelo chiado, e não resistiu a comprar um cd do duo (cuja venda é uma das formas de ganharem dinheiro). dois dias depois, thomas, voltou para oferecer aos artistas um desenho feito por si: «eu já não desenhava há muito tempo, mas eles inspiraram-me», assume envergonhado.

a história dos tribal baroque começou no central park, em nova iorque, há cinco anos, quando a jovem lila se cruzou com o experiente músico itinerante. «fiquei muito impressionada com ele, com o seu jeito e com a sua música», revela a cantora. lila estudava então ópera e teatro, mas abdicou dos estudos para se tornar aprendiz de thoth. antes de a jovem artista aparecer na sua vida, thoth já tinha percorrido um longo percurso – o cd feito com lila é o 11.º da sua conta pessoal. o seu mérito é há muito reconhecido: em 2002, o documentário curta-metragem thoth, sobre a sua vida, valeu um óscar a sarah kernochan e lynn appeller.

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