Cismas

1. Cismas. A peça de hoje é sobre as novas fraturas que dividem as sociedades ocidentais e que estão na origem das surpresas eleitorais  registadas na América e Reino Unido e de um crescente mal-estar em todos elas. 

2. Cisma de classe cultural. A vitória do Brexit e, mais claramente, a de Donald Trump mostram como as elites urbanas, cultas, cosmopolitas e liberais estão isoladas de uma grande parte (a maioria) dos seus concidadãos. Janice Turner na sua coluna no Times de Londres do passado sábado ilustrava o ponto citando Jon Stewart (esse mesmo, o ex-Daily Show), paladino da esquerda urbana americana, que dizia que em Nova Jérsia os votantes não estavam preocupados com questões ‘moralmente elevadas’ como os direitos dos mexicanos mas antes questões tão pedestres como o aumento dos prémios de seguro com o Obamacare. As elites culturais desdenham o inglês primitivo e desarticulado de Trump e o seu gosto piroso. Preferem o estilo e gosto sofisticados de Hillary. Trump vive numa penthouse na 5.ª Avenida rodeado de cristais, dourados e veludos , qual Versailles. Hillary vive numa mansão colonial e campestre em Chappaqua, estado de Nova Iorque, toda ela classe e dinheiro antigo. Mas as classes trabalhadoras americanas falam como Trump e têm os gostos pirosos de Trump. Trump é culturalmente um deles só com mais dinheiro. Eles entendem-no; seriam como ele se pudessem.

3. O Cisma cinzento. Portugal cunhou a expressão: as tensões entre os atuais reformados, que tiveram emprego e casa e têm reforma e os jovens que, mesmo com emprego, têm dificuldade em ter casa e não sabem se terão reforma. Mas o fenómeno não é só português. No Reino Unido ganha força um movimento em favor do acesso à habitação por jovens (’Make Renting Fair’). Em todo o mundo ocidental, pela primeira vez em décadas (séculos?), os filhos viverão pior do que os pais. O descontentamento da geração Milénio cresce. Até onde? Que forças alimentará?