Caixa com prejuízos atrás de prejuízos

Depois de ter apresentado perdas de 189,3 milhões até setembro deverá fechar o ano com prejuízos até três mil milhões depois de reconhecer imparidades.

Caixa com prejuízos atrás de prejuízos

Assim que Paulo Macedo tomar posse na Caixa Geral de Depósitos (CGD) irá deparar-se com prejuízos entre dois a três mil milhões de euros só referentes a 2016. Isto porque além das perdas verificadas este ano, a Caixa vai também contabilizar as imparidades relacionadas com o passado, assumindo perdas em créditos com pouca probabilidade de serem pagos. Ainda assim, o valor final das imparidades aproxima-se do montante que o Estado prevê injetar: 2,7 mil milhões de euros.

Este montante está contemplado no plano estratégico delineado por António Domingues e que foi entretanto apresentado às direções internas da Caixa. Trata-se do acordo assumido entre a atual administração, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu (BCE), onde está previsto que a CGD assuma as perdas este ano para libertar as contas do banco durante os próximos ano.

E mais uma vez, Paulo Macedo vai ter pouca margem de manobra para alterar algumas das medidas já negociadas, uma vez que o sentido do acordo tem de se manter (ver texto ao lado).

Aliás, este é um dos esquemas a seguir pelo maior banco do país para que possa regressar aos resultados positivos já em 2017 e de forma a atingir um lucro na ordem dos 670 milhões de euros em 2020 (dos quais 550 milhões em Portugal).

O que é certo é que este reconhecimento das imparidades poderá fazer pressão em outros bancos concorrentes. A explicação é simples: se a Caixa decidir reforçar  o reconhecimento de perdas, outras instituições financeiras com problemas semelhantes – é o caso, por exemplo, do  BCP e do Novo Banco – também poderão ser obrigados a fazer o mesmo tipo de reforço. Até porque alguns dos clientes mais problemáticos da Caixa resultam de financiamentos concedidos em conjunto com outros bancos. Ora, se esses créditos forem dados como perdidos na CGD, os restantes têm de seguir o registo de imparidades na mesma dimensão. No fundo, a mesma operação tem de ser tratada da mesma forma nos diferentes bancos.

Há cinco anos com perdas

José de Matos, o antigo presidente da CGD que saiu do banco a 31 de agosto, depois de a administração liderada por António Domingues tomar posse, chegou a comparar a Caixa a um «petroleiro difícil de mover».

O certo é que este «petroleiro» apresenta prejuízos há cinco anos consecutivos que somam mais de dois mil milhões de euros. O ex-presidente da CGD chegou a apontar o dedo aos gestores do passado, ao garantir que a instituição financeira tinha vindo a «limpar o balanço», mas a «carga negativa de maus e antigos créditos concedidos nos anos anteriores» ainda não tinha permitido o regresso aos lucros, justificou, na altura, José de Matos.

Desde 2011, quando esta administração entrou em funções, foi obrigada a contabilizar imparidades de cinco mil milhões, relacionadas com operações problemáticas e mau crédito antigos.

Já nos primeiros nove meses do ano apresentou perdas de 189,3 milhões de euros. enquanto em 2015 apresentou resultados negativos próximos de 172 milhões de euros.

Mas ainda assim mostra uma melhoria significativa face aos 348 milhões de euros negativos com que o banco fechou o ano de 2014. A justificar estes prejuízos está, pelo lado negativo, a redução da atividade doméstica, e, pelo lado positivo, a melhoria da atividade internacional que ajudou a que as contas não fossem piores.

A somar a estas perdas é preciso contar também com as alienações que tem feito nos últimos anos. A CGD vendeu o negócio dos seguros (que integrava as seguradoras Fidelidade, Multicare, Seguros de Saúde, Cares e Companhia de Seguros) à chinesa Fosun, num negócio com um encaixe total a rondar os 1200 milhões. Alienou as várias participações que detinha em empresas, como na PT, Cimpor, Zon, Galp e Brisa. Esta alienação de participações em setores não financeiros foi uma das medidas do memorando assinado entre Portugal e a troika.

Caixa em  números

O maior banco do país conta com quatro milhões de clientes em Portugal, mais de 1200 agências, cerca de 8800 funcionários só em Portugal, mais outros tantos lá fora. A CGD absorve ainda mais de 58 mil milhões de euros em depósitos – entre particulares (quase 47 mil milhões de euros ) e empresas (mais de seis mil milhões de euros) – e concede mais de 52 mil milhões de euros de crédito, de acordo com a informação mais recente disponibilizada pelo banco.

Um valor que compara negativamente com meses anteriores. Por exemplo, até junho, o banco público perdeu, a cada dia, o equivalente a 1,1 milhões de euros. E entre março e abril, altura em que foi tornado público que o Estado ia mudar a administração do banco e avançar com um processo de recapitalização avaliado em 5 mil milhões de euros, a instituição perdeu 1393 milhões de euros em depósitos.

A instituição financeira tem ainda atividade em 23 países, entre os quais Angola, Cabo Verde, Moçambique e Brasil, bem como Reino Unido, Espanha e França. Posições essas que serão revistas no plano que terá ser posto em marcha pela nova administração.