Avaliar para compreender, por Paulo Guinote

Estas semanas têm sido de divulgação de muitos indicadores sobre a Educação, seja a partir de testes internacionais (TIMMS e PISA), em que os alunos portugueses consolidaram uma progressão de 15-20 anos que nos trouxe da cauda para a metade cimeira da amostra, contrariando os discursos catastrofistas dos reformadores permanentes, seja a partir de indicadores…

Sou favorável à realização destas avaliações, porque só assim podemos obter, por imperfeitos que sejam, elementos para fazer uma aferição das aprendizagens dos alunos e fazer análises que nos permitem conhecer melhor as diferentes realidades em confronto. Há diversos traços comuns às escolas que estão no topo dos rankings e que as diferenciam das que estão na base, para além do muito referido contexto socio-económico. Vou isolar apenas três indicadores que é possível verificar a partir dos dados deste ano: as escolas do topo tendem a ter um menor número de exames realizados, os alunos que os realizam são mais novos e o diferencial entre a classificação externa e interna é menor.

Se analisarmos as 20 escolas do topo do ranking do Ensino Secundário, constata-se que realizaram em média menos de 350 exames, as 20 seguintes mais de 370 e do 41º ao 60º lugar a média foi de 550 exames, tornando-se esta progressão menos significativa a partir daí.

No caso das idades, entre as 20 melhores escolas do Ensino Básico, os alunos tinham em média 14 anos à data da realização das provas finais, enquanto nas 20 últimas a idade média era de 14,8 anos. No caso do Ensino Secundário, os valores eram de 16,5 e 17 anos. O que se explica pela existência de maior insucesso nas últimas e, consequentemente, existirem alunos mais velhos.

No caso do diferencial, nas provas do 9º ano, nas 20 escolas melhor colocadas, a avaliação interna é superior à externa apenas em 0,21 (escala de 1 a 5), enquanto nas menos bem colocadas é de 0,87. No caso dos exames do Secundário, os diferenciais são de 1,4 contra 4,6 valores.

Uma das explicações para esta situação pode encontrar-se no modo como as escolas decidem lidar com alunos mais problemáticos, em que muito do trabalho quotidiano passa por transmitir regras de convivência, de empenho mínimo nas actividades e de respeito pelos restantes agentes educativos. A nível interno, há escolas que preferem enfatizar o peso destinado das atitudes na avaliação, dimensão não contemplada na avaliação externa. Uma escola que reserve 30-40% para este parâmetro quase certamente terá um diferencial maior do que outra que apenas o considere em 10-15% na avaliação final. Ou seja, o que pode parecer um sinal de insucesso é a consequência de uma estratégia destinada a promover o sucesso. Mas quem analisar uma simples tabela sem este tipo de enquadramento, tenderá a retirar conclusões erradas. É isso que devemos evitar a todo o custo.

Paulo Guinote
Especialista em educação