Falsa tabela classificativa, por Filinto Lima

Pela 16.ª vez consecutiva o Ministério da Educação, correspondendo à pressão da comunicação social mas também à de alguns setores da sociedade, disponibilizou dados de algumas variáveis de contexto escolar, trabalhadas posteriormente pela imprensa e que têm como resultado final os erradamente denominados rankings das escolas.

É curioso que, cada vez mais tarde, esta espécie de tabela classificativa, é apresentada pelos media, este ano em plena época natalícia, num modelo muito limitado, minimalista e redutor do trabalho desenvolvido na escola, pese embora o facto de não ser seguido por qualquer outro país europeu.

Embora tenham sido introduzidas algumas alterações neste instrumento de avaliação, o certo é que o mesmo continua muito semelhante ao dos últimos anos (valorização desmesurada dos resultados de exame…), permitindo-me continuar a escrever o que escrevi há dois anos atrás, num jornal diário, o que aqui e agora relembro. 

Enquanto, pelo menos, não entrarem neste trabalho fatores como a qualidade dos alunos (empenhados, estudiosos, faltosos), o efeito da escola sobre os alunos (valor que acrescenta, desde que o aluno entra até que sai da escola), o número de alunos e seus percursos escolares, a estabilidade do corpo docente, o nível socioeconómico dos pais e da região onde a escola se insere, a motivação dos alunos e famílias, o efeito das explicações, os apoios extra sala de aula, etc., o objetivo de comparação entre escolas não é alcançado ou é falaciosamente atingido, partindo de pressupostos errados e com dados do contexto atrasados um ano.

Na verdade, esta tabela mostra a qualidade dos alunos que fazem os exames – resultados escolares, em detrimento da ação e do mérito dos estabelecimentos de ensino. Não retrata a outra vertente (competências sociais) com que o aluno sai da escola; em muitos países, por exemplo, Estados Unidos da América, o recrutamento para emprego já se faz pela leitura do portefólio onde essas competências são valorizadas, muitas vezes mais do que as académicas.

Talvez tenha mais interesse a construção de um ranking que gradue as escolas tendo em conta, pelo menos, dois fatores: as que preparassem melhor os alunos para terem sucesso no ensino superior, e/ou as que tivessem em linha de conta a evolução do aluno desde que entra numa escola (valor acrescentado pela escola ao aluno durante o percurso escolar).

Por outro lado, é preciso não esquecer que as medidas de política educativa têm contribuído para uma instabilidade generalizada nas escolas, mesmo em termos de estabilidade dos lugares que ocupam neste ranking, num constante sobe e desce, ano após ano, com dificuldade em encontrar um rumo certo, tolhidas pelas constantes mudanças na organização da escola (sobretudo da escola pública – agregações de escolas, falta de estabilidade do corpo docente…), inexistência de efetiva autonomia (sobretudo curricular e pedagógica, mas também na contratação de professores), alterações sistemáticas da legislação educativa, onde tudo é mudado, por tudo e por nada (!)…

Este estudo deverá ser relativizado e o seu valor não pode ser desprezado, mas não seria mais aconselhável criar o ranking das escolas que preparam melhor os alunos para o ensino superior e para a vida? Ou destacar as escolas que fazem progredir/evoluir mais os alunos?

Filinto Lima   
{ Presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos de Escolas Públicas }