Venezuela. Maduro adia introdução de novas notas para depois do ano novo

Os novos bolívares não chegaram ao país e só serão introduzidos em janeiro. Nota mais valiosa vale três cêntimos no mercado negro. 

A nota mais valiosa na mão dos venezuelanos vale por estes dias menos de três cêntimos de euro e assim deve continuar até ao início do novo ano. Nicolás Maduro adiou este sábado a introdução de novos bolívares, uma semana depois de os anunciar e provocar protestos violentos em várias cidades.

O presidente venezuelano diz que as novas notas com valores mais altos só vão entrar em circulação em janeiro, não porque o país não as tenha produzido a horas ou por não ter dado tempo suficiente para a transição, como reclamam as ruas, mas porque o país está a ser alvo de um “golpe monetário”. “Estamos a ser vítimas de uma sabotagem internacional, portanto as novas notas, que estão prontas, não podem ser enviadas para a Venezuela”, afirmou.

Os críticos dizem o contrário. Nicolás Maduro apanhou o país de surpresa ao anunciar na última semana que as notas altamente desvalorizadas seriam trocadas por notas com valores superiores. O Fundo Monetário Internacional estima que a inflação na Venezuela ande pelos 470% – algo que o governo tenta esconder com grandes subidas de salários –, o que fez com que as velhas notas perdessem quase todo o valor e sejam hoje usadas em grandes molhos – em algumas lojas, as notas são pesadas, não contadas.

Notas como a de 100 bolívares, por exemplo, a mais valiosa e comum, que no mercado negro vale hoje menos de três sentimos de euro, passarão a dar lugar a notas de 500, 2000 e 20 mil bolívares. Maduro, porém, deu apenas três dias para a transição, criando longas filas em bancos, protestos e pilhagens. A nota de 100 bolívares deveria ter acabado na quinta-feira, mas nesse dia as caixas de multibanco continuavam a emiti-las, na prática forçando quem as levantava a ir para longas filas de bancos para as depositar novamente. 

O caos gerou protestos, que na sexta-feira se alastraram por seis cidades. Quase metade dos venezuelanos não tem conta bancária e na quinta-feira tornou-se comum o receio de que as novas notas não chegariam a tempo e que o dinheiro guardado ficaria subitamente sem valor. Em Maracaibo, a polícia travou a pilhagem de um banco. Em Bolívar, dezenas de lojas foram pilhadas.

A oposição, em negociações com o governo depois de este ter travado um referendo para encurtar o mandato de Maduro, afirma que três pessoas morreram nos protestos. “Um sujeito que conheço e que trabalha numa empresa de camiões blindados diz que nunca ninguém viu as novas notas. É tudo mentira”, dizia um venezuelano à BBC. “As nossas crianças têm fome”, afirmava Lucrecia Morales à Reuters. “Somos pais que ganham dinheiro com suor. E agora dizem-nos que não tem valor nenhum? Precisamos de uma solução.”