O cavalo do inglês

Na minha infância, ouvi dizer muitas vezes que uma pessoa que emagrecia abruptamente, e ficava esquálida, parecia o cavalo do inglês.

ao que consta, quando já se tinha desabituado de comer, o cavalo morreu – para espanto do dono.

não conheço a origem da história, mas voltou-me à memória com os resultados do exercício governativo do primeiro ano deste executivo, de austeridades descontroladas.

fique claro que, embora não as tenha feito, acho que as dívidas da responsabilidade de portugueses eleitos por nós devem ser pagas até ao último tostão.

pode ser que, assim, passemos a escrutinar as suas decisões durante os mandatos.

estávamos de facto na penúria nos finais de 2010.

já só tínhamos dinheiro para pagar salários, subsídios e pensões durante um mês – e ainda se discutia a localização do novo aeroporto ou os percursos do tgv!

não só os governantes estavam loucos: eles eram apenas a guarda avançada. o grosso da coluna éramos todos nós, que não víamos o que qualquer criança enxerga de imediato: ‘quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vem’.

eleições feitas, ganha a outra face da mesma moeda: a restante metade do ‘centrão’.

as palavras mágicas passaram a ser: contenção, sacrifícios, austeridade, credibilidade.

«o défice negociado com a troika será cumprido, custe o que custar. doa a quem doer» – dizia o primeiro-ministro do alto da sua ‘pureza’ política, que parece ter comprado em qualquer loja de ocasião.

rodeou-se de tecnocratas/ académicos, alguns com ar de honestos.

eu não concordava com muitas das medidas, mas todos têm o direito de experimentar o seu modelo, se foram eleitos legitimamente.

passado um ano, estamos todos mais pobres. os muito pobres vivem pior do que os cães dos ricos. a dívida aumentou e o défice atingiu os 7,9% no final do exercício do primeiro trimestre.

os velhos deste país têm de escolher entre comprar leite e pão ou remédios para a tensão arterial. ir ao médico ou ao hospital passou a ser um luxo incomportável. a burocracia impede que alguns, que são isentos, tenham acesso a essa informação.

na educação, um grande matemático foi infectado de revivalismo e passou a considerar o modelo educativo do estado novo como eficaz e progressista.

muitos dos que acreditaram que comprar casa própria era a solução mais adequada para casais em início de vida, ficaram desempregados às dezenas de milhares. hoje não dormem na rua porque a solidariedade familiar é um valor que os mercados ainda não conseguiram deitar para o lixo.

o modelo falhou redondamente.

se paralizaram a economia, se aumentaram os impostos até nos pôr a pão e água, como querem que sobre algum cêntimo para pagar a dívida?

um médico alemão, o dr. rath, dizia numa conferência em berlim, em março deste ano: «pela terceira vez em dois séculos, a alemanha quer aniquilar a europa sufocando-a economicamente». e acrescentava: «quem disse que se o euro cair, a europa cairá com ele?». talvez só o ‘senhor passkozy’.

catalinapestana@gmail.com