Margarida pinto Correia: “2017, o Ano das Alternativas”

Quem tem medo do ano que vem? O mundo. E haverá esperança? Para uns parece que sim, a outros nem por isso. O i convidou dez personalidades portuguesas para escreverem sobre 2017.  Da política interna à arena internacional, da diplomacia à literatura, conhecem o país e o lugar dele no mundo com perspetivas distinta mas que…

Um ano para afirmar alternativas. Começa com o lastro de perdas: perdemos artistas, enormes. Perdemos esperanças internacionais num futuro que (re)conhecêssemos, perdemos vidas num número para além do sequer imaginável, numa tormenta que parece ainda sem fim.

Vai daí que recomeçar pode ser sinal de esperança – ou, vá, de alternativa. Temos uma ONU nova, será que é desta que ganha pernas? Era uma alternativa, temo que seja uma esperança.

Temos os Estados Unidos e a Rússia de braço dado sem Europa. Não sei que tipo de esperança, mas alternativo é, com certeza. E a definição de Europa? Também não há volta a dar, ou se define de uma vez por todas, ou desaparece, escangalhada e envergonhada, num cantinho. Mole. Prefiro ter esperança, não há outra alternativa. Por mais populista que pudesse ser agora, não encontrava maneira popular de dizer que isto vai ser mesmo de ficar para a História. E nós, com sorte, estaremos cá para ver. 

Num país gerigonçado a ser alternativa à vista dos outros todos. Numa sociedade afinal com timoneiros e esperança, porque apostou em alternativas. Portugal teve coragem de se reinventar, mas é em 2017 que está o espelho: aguentamo-nos? Ao turismo, à “rede” entre partidos…colamos os cacos e vamos a isto?
Tenho esperança que sim. Na Inovação Social, 2017 é o ano que afirma o PO ISE 2020, uma alternativa europeia que apoia quem souber fazer coisas em parceria, investir no que provar impacto, colher frutos e medir resultados. Estamos mesmo à frente de um ano que vai provar os ciclos constantes, que vai obrigar-nos a finalmente experimentar diferente para avançar. Plataformas online, gente em rede, regresso ao biológico lado-a-lado com extraordinário e avançado empreendedorismo. Vejo-o daqui.

Mas este país que se mostrou o mais integrador, o com menos medo de seguir em frente e o mais alternativo é também o que está mais longe. Quando aqui chegar a verdadeira onda de refugiados, aguentamos firme? Nem dá para ser esperança, tem de ser convicção. Teremos de continuar a conjugar o “e se fosse eu?”. Pode ser que contagie a política, pode ser que se estenda à banca. E se fosse com eles todos? Aí está um bom exercício para mudança de ano. Na infinita esperança, acredito que a banca se consegue equilibrar, e fico sem alternativa para a Justiça. Não sei, sabe alguém?, o que esperar – e no entanto, não concebo o futuro sem ela. Não concebo novas autárquicas na velha escola, quero muito muito cá do fundo que cheguem como alternativa ao jogo gasto dos interesses, e passem a bola (que em 2016 fez tudo o que podia, por isso em 2017 pode descansar) aos interessantes. É que é mesmo a nossa única saída, se não queremos que se abstenham 70% dos capazes.

2017 é o ano de todas as expetativas. Não queremos, não podemos perder mais. Igualdade de género tem de deixar de ser apenas declaração de princípios; solidariedade tem de começar a vir de dentro. Parece que Educação é inequívoca para o podium das atenções, amen! Haja então professores felizes, escolas eficazes e gente a gostar de aprender. Sejam os nossos ciclos lugares de aprendizagem e não de ensino. É, acreditem, muito alternativo. 

Diretora da Inovação Social, Fundação EDP