Pedro Dias matou GNR para encobrir crimes do passado

A arma que tinha em sua posse, em outubro de 2016, iria desmascará-lo. Cartas deixadas pelo fugitivo à família apontam-no como o autor do crime.

A Polícia Judiciária acredita saber qual o motivo que levou Pedro Dias, o autor dos crimes de Aguiar da Beira, a disparar sobre os elementos da GNR que o abordaram quando se encontrava a dormir no carro. A razão pode estar relacionada com um crime cometido em 2010, em Leiria.

Durante um furto a um armazém de ração para gado em Leiria há seis anos, uma pessoa apercebe-se do que se está a passar e chama a GNR. Ouvida na altura, a testemunha descreveu o alegado assaltante: alto, possante. Mas o processo foi arquivado por falta de provas. 

Quando as autoridades, nesse dia, chegaram ao local, foram recebidas a chumbo. O homem disparou indiscriminadamente oito tiros. 

Os invólucros recolhidos na altura estavam armazenados na base de dados da polícia científica. Quando chegou, para análise balística, o projétil que no dia 11 de outubro de 2016 matou o militar Carlos Caetano, chegou-se à conclusão de que eram iguais à mesma arma utilizada para atacar os elementos da GNR alertada do assalto.

A polícia acredita agora que, naquele dia, Pedro Dias iniciou as hostilidades para tentar encobrir os crimes de Leiria cometidos anteriormente e esconder a arma usada para assaltar o estabelecimento e tentar balear elementos da GNR. 
O processo de Leiria será agora reaberto e apensado à investigação principal – Pedro Dias pode ser acusado de tentativa de homicídio dos agentes da autoridade que o tentaram deter durante o assalto. 

Após o tiroteio em Leiria, Pedro Dias colocou-se em fuga numa pick-up Toyota Ailux, a mesma carrinha que, após os crimes de Aguiar da Beira, pediu emprestada à ex-namorada, e na qual iniciou a fuga – que culminou na sua entrega, após uma entrevista concedida à RTP. 

Nessa conversa com Sandra Felgueiras, Pedro Dias reportou-se aos elementos da GNR que o abordaram como “pessoas simpáticas”, que o tinham apanhado na posse de produtos ilegais (bidons com gasóleo furtado que foi apreendido no carro) mas nem o haviam multado.

Cartas assumem autoria do crime Pedro Dias deixou para trás, durante a fuga, várias cartas dirigidas à família, que foram encontradas pela Polícia Judiciária. 

Nestas, o fugitivo assume a autoria das mortes, pede desculpa pelo que fez aos pais e à atual companheira, lamentando ainda a deceção que lhes causou. Foram também encontradas folhas apenas com a assinatura do falso ‘piloto’ muito provavelmente para acautelar algumas transferências de bens. Todo esse material foi remetido ao Laboratório de Polícia Criminal para que seja feita a análise à caligrafia, com o objetivo de comparar os manuscritos com a escrita de Pedro Dias, a quem a polícia pediu a recolha de autógrafos e ADN.
Recorde-se que, durante a fuga, Pedro Dias tentou manter contacto com a família, em particular com a irmã – a Polícia Judiciária chegou mesmo a ver Andreia Dias a entrar e a sair apressadamente da casa de Fátima Reimão, uma mulher de 61 anos, amiga do fugitivo e dona da casa onde este se encontrava quando se entregou às autoridades.

Roubo de matrículas e antiguidades As buscas realizadas pela PJ no âmbito deste inquérito revelam que Pedro Dias, na verdade, levava uma vida dupla. Em 2012, o ‘piloto’ roubou pelo menos duas matrículas de automóveis ligeiros, em São Pedro do Sul, para aplicar nos seus veículos. As matrículas foram encontradas quase três anos depois, numa das quintas de Pedro Dias, no âmbito de uma outra investigação. 

Pedro Dias vai começar a ser julgado pelo crime de furto já este mês, no Tribunal de São Pedro do Sul. Em face dos crimes cometidos em Aguiar da Beira, o DIAP de Lisboa decidiu reabrir uma investigação a um outro roubo, também em 2012, mas desta vez no Alentejo. Pedro Dias é suspeito de ter roubado diversas antiguidades de uma quinta, obras encontradas recentemente, depois de as autoridades terem feito buscas na casa do suspeito, na habitação dos seus pais e da ex-namorada. Foram recuperadas peças de louça Companhia das Índias, pratas antigas e até uma tela.