Clandestino. O mistério é um prato que se serve ao brunch

Basta ter a palavra “clandestino” para chamar a atenção, certo? Tal como não há quem resista a um bom mistério, são poucos os que conseguem dizer não a umas panquecas de banana, uma tosta de abacate ou a umas mimosas bem frescas. Agora é juntar à mesa o suspense de que falamos no início a…

Sempre que convidavam amigos para almoçar lá em casa, os elogios de boca multiplicavam-se por fotos artísticas no Instagram e pedidos para que tornassem públicas algumas das receitas que enchiam a mesa desta casa. Blogues já há muitos, pensaram eles, restaurantes também. Brunchs então, brotam que nem cogumelos por essa Lisboa fora. “Mas nenhum melhor que o nosso”, garantem, sem hesitações, depois de terem calcorreado meia cidade a provar do que melhor acontece entre o pequeno-almoço e o almoço dos lisboetas.

Para manter o suspense mas conseguirmos, ao mesmo tempo, dar forma à imaginação, vamos apenas dizer que estamos perante um grupo de três amigos que nada tem a ver com a restauração, a não ser um tremendo gosto por comer bem e servir ainda melhor. “Queríamos partilhar com os outros o que acontecia aqui em casa aos fins de semana”, explica a autora do nome Brunch Clandestino e também do bolo de cenoura que encerra a refeição. Mas já lá vamos.

As portas desta casa abrem-se às 13 horas e mesmo antes de começarem a chegar à mesa os pratos que compõem um menu que muda consoante a imaginação e aquilo que há de mais fresco na mercearia, já lá nos espera um prato com queijo, um cesto com pão, chá quente e sumo de abacaxi e frutos vermelhos.

À mesa só há lugar para seis, mas curiosamente, ainda não receberam um grupo único que fechasse as inscrições. “Normalmente vêm a pares e isso tem muito mais piada. Conseguimos juntar pessoas que de outra forma nunca se conheceriam”, explicam. Apesar dos três mosqueteiros dos brunchs terem como regra não se sentarem à mesa, é inevitável que não se juntem ao grupo. “A conversa flui sempre e nós também gostamos que o brunch não seja só servir comida e bebida”. E flui de tal maneira que a regra das três da tarde como hora de fim de brunch foi quebrada logo no primeiro dia: o grupo só saiu lá de casa já passava das sete da tarde.

Da clandestinidade Numa cidade com mais brunchs que subidas e descidas – o que, quando nos referimos a Lisboa, quer dizer muito – há que marcar a diferença. Foi com esta premissa que o trio idealizou um conceito sem datas fixas, que só funciona por marcação e cuja morada só é fornecida na véspera ou mesmo no próprio dia. Pede-se reserva quanto a informações sobre a localização da casa, mas todos são convidados a partilhar nas redes e em conversa o que de melhor se serve neste brunch.

Sem mais nenhuma ferramenta a não ser as redes sociais, onde aliás divulgam as datas dos próximos eventos, foi com surpresa que chegaram aos mil likes no Facebook em apenas três dias e contam já com mais de 50 pessoas em lista de espera para as próximas datas. “Tivemos pedidos de hostels e restaurantes para parcerias mas, para já, temos recusado. Queremos fazer jus ao nome Brunch Clandestino o máximo que pudermos”, explicam.

E comer que é bom? Isto da surpresa, do suspense e do mistério é muito bonito mas não enche barriga. Passemos ao menu que, esse sim, enche tudo, a começar pelos olhos. Tudo é servido em loiça colorida sem pendants nem cerimónias. Afinal, estamos em casa e o cheiro que vem da cafeteira ao lume não deixa dúvidas quanto a isso. Da cozinha começam a chegar os pratos e tacinhas, cheias com aquilo que foi comprado na mercearia. “Não somos extremistas do saudável, mas temos duas regras: a refeição é vegetariana e todos os ingredientes são comprados no comércio local”. Vai daí que o menu seja sempre diferente, consoante o que esteja na banca. 

Pelo que vemos chegar à mesa, parece ter sido um dia de boas colheitas no mercado. Senão vejamos: tosta de húmus, queijo fresco e tomate cereja, mini quiche de vegetais, legumes assados com batata e panquecas com banana. Em taças individuais vem o iogurte com granola e o tão afamado creme de cenoura e coco. “Foi uma invenção minha num dia em que não tinha azeite”, admite a responsável pela iguaria que, de longe, recebe mais elogios. Isto talvez porque ainda não chegou a hora do tal bolo de cenoura de que falámos no início, acompanhado de uma mimosa fresquinha. “Mimosa”, perguntamos nós? “Mimosa”, respondem eles, já a verter para os copos a mistura de espumante e sumo de laranja.

As datas de janeiro (8,22 e 29) já estão esgotadas e, para o Verão, já há planos de alargarem uma mesa que já começa a ser pequena para as encomendas. “Teremos espaço para mais gente, ao ar livre, mas sempre dentro do mesmo bairro”. O nome da rua mantém-se secreto, claro, até que o telemóvel toque com a localização do brunch marcado para o dia seguinte. Até lá venha daí mais uma mimosa que o sol vai alto e, tal como nos disseram à entrada, “esta casa é vossa até às três da tarde”.