Lisboa. Terreiro do Paço nem sempre foi amarelo

Durante décadas um mistério, o caso ficou resolvido nos 90: a cor original da Praça do Comércio é o amarelo

O Palácio de Queluz pode ser o monumento português que mais recentemente recuperou a sua cor original, mas não foi o único. A praça mais icónica de Lisboa – Terreiro do Paço ou Praça do Comércio, conforme o gosto – apresenta hoje em dia um forte e característico amarelo ocre, que se pensa ser a sua cor inicial.

No decurso da história, no entanto, os edifícios que enquadram a praça já foram pintados pelo menos de outras duas cores: verde-água e rosa-velho. A discussão atravessou os séculos.

As cores da Praça O projeto – encomendado pelo Marquês de Pombal após o terramoto de 1 de novembro de 1755 – foi elaborado por Eugénio dos Santos e Carlos Mardel. A praça foi pensada para ser o principal centro administrativo e central da cidade, uma vez que ali estavam situadas as instituições judiciais e governamentais, a Bolsa do Comércio e a Alfândega. Era, para todos os efeitos, o centro simbólico não só da capital como de todo o país.

Em 1775, vinte anos depois do terramoto, é colocada no centro do terreiro a estátua de D. José e há documentos que referem a cor escolhida para o edificado: amarelo. No entanto, a construção dos edifícios envolventes durou 120 anos, pelo que a verdadeira cor permanecia quase um “mistério”.

Em 1950, a Praça foi restaurada pelo ministro das Obras Públicas, José Frederico Casal-Ribeiro Ulrich, tendo sido escolhido o tom de verde-água ou verde-claro para cobrir os edifícios. E é desta cor que o espaço é pintado.

No entanto, em 1976, é ordenado outro processo de restauro das fachadas pela Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN). Há uma discordância entre a entidade e a Câmara, que acaba por ser resolvida em votação sobre a cor a ser aplicada. O escolhido foi o rosa-velho.

Já nos anos 90 foi encontrado um mural numa igreja em S. Luís do Maranhão (Brasil), que mostrava os edifícios da Praça do Comércio pintados de… amarelo.

Com a confusão instalada, em 1994 foi realizada uma investigação histórica pedida pela DGEMN – atual Direção-Geral do Património Cultural (DGPC). Os estudos resultaram na exposição “As cores de uma Praça” – que foi exibida no próprio local. Ficou provado que amarelo era a cor inicial, pensada no tempo do Marquês.

Assim, o edificado recuperou a cor amarelo ocre que continua a contrastar com o Tejo.