“É tempo de garantir a imortalidade do legado” de Mário Soares, diz Marques Mendes

O comentador falou de vários pontos da vida do histórico socialista, que morreu este sábado, e deixou um aviso: nacionalizar o Novo Banco “é um perigo”

No seu habitual comentário de domingo, na SIC, Marques Mendes descreveu Mário Soares como “a maior figura da democracia portuguesa” e a “maior figura política do século XX em Portugal”.

Para o comentador, o histórico do PS teve “um contributo decisivo” na “luta pela democracia” e na “consolidação do regime”, destacando a sua “capacidade de luta”, a sua “grande capacidade política”, e também a sua “visão estratégica”. “É uma das figuras mais carismáticas de Portugal na Europa”, acrescentou.

Marques Mendes sublinhou alguns momentos dos 70 anos de vida pública de Soares. Falou na “preocupação” do antigo Presidente da República em “criar uma oposição credível, socialista, republicana e autónoma do PCP”. Ressalvou o facto de ter ajudado a criar o Partido Socialista, em 1973 na Alemanha e de que foi “primeiro-secretário-geral”, e de ter sido 12 vezes preso pela PIDE.

“O homem da liberdade” tornou-se a imagem de marca do antigo líder do PS, considerou o comentador.

Marques Mendes apontou quatro momentos em que Mário Soares foi um "herói": “a luta pela unicidade sindical”; após o 11 de março de 75, quando os militares “tentaram adiar as eleições para a assembleia constituinte”; o comício na Fonte Luminosa, onde “Soares jogou com as mesmas armas para mostrar que também tinha capacidade de vencer na rua”; e o debate televisivo contra Álvaro Cunhal.

Recordou ainda a “relação crispada” com Ramalho Eanes, caracterizando-a como a “colisão entre visões diferentes”, uma militar, outra civil; e o Bloco Central, cujo acordo com Mota Pinto ocorreu “secretamente” ainda antes das eleições.

Relativamente aos anos enquanto Presidente da República, Marques Mendes afirmou que “Soares fez uma Presidência da República que ainda hoje é marcante em vários pontos”. Lembrou a boa “relação institucional” com Cavaco Silva durante o primeiro mandato e mais complicada no segundo mandato, altura em que fez “as pazes” com o PS.

Para o comentador, a descolonização foi “o período mais sensível” da vida política de Soares. Mendes afirmou que as pessoas que vieram de África têm “razão em queixar-se”, uma vez que muitos “vieram em condições por vezes inadmissíveis”, mas considerou que a “desculpa” dada pelo fundador do PS “também é válida”. “A descolonização não foi bem feita pelas circunstâncias e as condições. Foi tardia e o poder político em Portugal não tinha força, não tinha autoridade para ter uma boa capacidade negocial”, acrescentou.

“É tempo de garantir a imortalidade do seu legado”, disse Marques Mendes, confessando que sempre teve “uma grande admiração” e “um enorme respeito”.

 O comentador falou ainda de outros temas nas notas finais. Falou dos juros, a subir “acima da barreira dos 4%”, ressalvando que é preciso ter em conta a componente externa e não apenas a conjuntura externa, como o governo tem referido, já que os juros da Irlanda, Espanha e Grécia baixaram.

Abordou ainda a questão do Novo Banco, elogiando a atuação do governo e do Banco de Portugal. Relativamente à nacionalização, disse que se trata de “um perigo” e recordou o caso BPN. “Nacionalização pode ser sinónimo de desperdício”.

Marques Mendes terminou o seu comentário lamentando ainda a morte de Guilherme Pinto, autarca de Matosinhos, e do professor Daniel Serrão, “grande médico, humanista e académico”.