Mário Soares. Da morada de sempre até à última

O corpo de Mário Soares partiu da rua onde morava – que tem o nome do seu pai – rumo às homenagens institucionais. Os alunos e professores do Colégio Moderno saíram à rua para saudar o filho do fundador

É uma rua estranha, a antiga azinhaga do Malpique, que liga uma ponta do Campo Grande à Alameda Universitária. É a rua para onde Mário Soares se mudou aos 12 anos, quando os pais fundaram o Colégio Moderno. A família vivia nas instalações do Colégio, onde fica hoje o edifício principal. O colégio expandiu-se entretanto rua abaixo, a rua que hoje se chama dr. João Soares, em homenagem ao pai de Mário Soares.

Foi nessa rua para onde Soares começou a viver há 80 anos que começou o cortejo fúnebre. No número 2, a casa que habitava há décadas, estavam os filhos João e Isabel, os amigos José Manuel dos Santos e Jorge Coelho, o sobrinho Eduardo Barroso, os netos Branquinho e Américo e até motoristas de Mário Soares. Muitas outras pessoas aguardavam a chegada do carro funerário. A porta do número 2 estava repleta de ramos de flores.

O cortejo seguiu uns metros e parou no Colégio Moderno, logo ali ao lado. Perfilados junto ao colégio dirigido por Isabel Soares, a filha de Mário Soares, alunos e antigos alunos aplaudiram a passagem do corpo do ex-Presidente da República. Uma homenagem ao homem filho do fundador do Colégio, que também lá foi aluno – tendo como regente de estudos Álvaro Cunhal, naquele que foi o primeiro encontro entre os dois grandes adversários de 1975. Mário Soares viveu no colégio mesmo depois de casar com Maria Barroso – o que aconteceu quando tinha 24 anos, em 1948. Foi, depois, uma espécie de administrador do Colégio – apesar de ser licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas, estava proibido de dar aulas. O pai, que continuava a ser o diretor do Colégio, pediu-lhe então para administrar uma quinta que o colégio explorava e de onde vinha parte da alimentação destinada aos estudantes.

Da casa-biblioteca, que era um dos maiores orgulhos de Mário Soares, onde parte da história do país se fez, começou o percurso de Mário Soares até à sua última morada.

“É mais do que justo e genuíno reconhecer esse trabalho que foi feito [por Mário Soares] para que hoje possamos estar todos em liberdade, em democracia pluripartidária e também numa Europa que nós queremos que possa ser cada vez melhor”