Uma questão de confiança

A presidente do Conselho de Finanças Públicas, Prof. Teodora Cardoso, falou hoje, segundo o Jornal de Negócios, à margem de um seminário sobre investimento público, sobre as taxas de juro portuguesas: “(…) precisamos de restaurar a confiança sobre a política orçamental em Portugal.

É isso que fará descer os spreads (a diferença de taxas face a outros países, tipicamente a Alemanha, padrão da zona-euro) e as taxas de juro. (…) temos de continuar a trabalhar nisso.”

É estranho este ativo intangível, mas decisivo, nas finanças, que é a confiança. Lembro-me de uma frase do coordenador do MBA, e professor de Finanças 1 e de Fusões & Aquisições, Prof. Jorge Farinha: “Se um financeiro tiver confiança em nós, podemos-lhe pedir tudo.”

Confiança foi algo que os mercados não tiveram em Sócrates/ Teixeira dos Santos, forçando-os a pedir ajuda à troika. Confiança que, depois de uma fase inicial em que desceu, voltou a subir, no consulado Passos Coelho/Vítor Gaspar/Maria Luís Albuquerque, porque eles foram gradualmente baixando o défice orçamental, mas nunca conseguiram atingir os objetivos a que se tinham proposto no início do ano. Por fim, António Costa/Mário Centeno devem conseguir atingir as metas propostas no início, e é possível as taxas de juro portuguesas venham a baixar. A geringonça foi olhada no início com desconfiança pelos mercados, mas em agosto as taxas da dívida de Portugal a dez anos atingiram 2,69%. Depois é que iniciaram este ciclo de subidas, interrompida desde a nova emissão de dívida a dez anos. Hoje, ainda com a emissão antiga a dez anos (que de facto agora são apenas nove), a taxa é de 3,86% às 14.30 horas.

De resto, segundo o Banco de Portugal, as nossas empresas conseguem financiar-se na banca a 3%, o que não é mau. E há sempre as financeiras, que oferecem crédito a uns escandalosos 17%, aos mais desesperados ou consumistas.

Será preciso ainda um longo caminho para chegarmos à situação da Alemanha, que prevê para este ano um excedente orçamental de 0,6%, e o ministro das finanças, o ortodoxo Schauble, já sugeriu que é possível baixar os impostos. É assim o caminho do rigor: exigente, mas é o único que garante bons resultados. Por isso é que hoje a taxa de juro da dívida alemã a dez anos está a 0,32% (o que compara com os nossos 3,86%): é que os investidores têm confiança no rigor dos alemães. É preciso agora trabalharmos, o que será difícil e moroso, para reparamos a nossa reputação, para que os investidores tenham mais confiança em nós.