O Governo tinha uma muleta à direita. Foi-se

A decisão de Pedro Passos Coelho de votar ao lado dos partidos de esquerda o chumbo da redução da Taxa Social Única para os empregadores é incoerente com o que o próprio secretário-geral do PSD defendeu no passado.

Ao contrário dos partidos de esquerda, que sempre se manifestaram com esta forma de «subsidiar o aumento do salário mínimo», o PSD defendia como bondosa a possibilidade de cortar um imposto que os empregadores têm que pagar. Ao mudar de ideias, Passos dá um tiro no seu próprio campo ideológico, dando de barato que muitos dos patrões terão simpatias pela direita e pelo PSD. 

No entanto, esta decisão de se juntar à esquerda contra a descida da TSU – reeditando uma espécie de coligação negativa de que muito se queixava José Sócrates nos seus últimos tempos de primeiro-ministro – é um marco na estratégia de Passos enquanto líder do PSD. Na realidade, o PSD esteve sempre disposto a viabilizar as propostas mais complicadas que o Governo quis impor e para as quais não tinha apoio à esquerda. Basta pensar no que se passou no caso do Banif. Na realidade, o Governo sempre contou com o PSD para isso, embora a relação pública entre Costa e os ministros de Costa e Passos Coelho seja de puro desprezo. Basta ver os debates mensais para perceber que isso é assim. Nisso, Marcelo e Costa têm mais um ponto em comum: ambos desprezam Passos Coelho. 

Aterrível contradição de Passos Coelho é que passou um ano sem fazer oposição, acabrunhado com um pin de primeiro-ministro ao peito mas fora do exercício do cargo, incapaz de marcar a agenda a não ser com previsões catastróficas que até agora não se verificaram. Uniu o seu destino à catástrofe do país, uma coisa profundamente deprimente e que o foi penalizando nas sondagens à medida que se percebia que na geringonça as coisas genericamente corriam bem. A novidade deste voto contra é que pela primeira vez num ano Passos cria um problema à solução do Governo: se o Governo é sustentado por partidos à esquerda, tem que agir em conformidade e entender-se com eles. Não dar mais abébias é uma tática legítima.